27 de jun. de 2011

CISÃO DE CARREFOUR E DIA PODE ALAVANCAR AS REDES NA EUROPA

jornal DCI 22/06/2011 - Gleyma Lima e Bruno Cirillo

A cisão entre as redes francesas Carrefour e Dia poderá resultar no oferecimento da segunda marca ao mercado, o que aquece ainda mais no Brasil a disputa pelo setor, liderado pelo Grupo Pão de Açúcar (GPA). É o que estimam analistas do varejo. Neste caso, o objetivo da oferta seria alavancar o fluxo de caixa da rede Carrefour, para que o grupo consiga então se recuperar na Europa. Tanto é assim que em meio a tumultos, protestos e pedido de demissão do presidente da empresa, os acionistas do Carrefour aprovaram, ontem, a independência da rede Dia, que anunciou, ainda, a meta de pular das atuais 6.373 lojas para mais de 8.000 até 2013.

"Voltada para as classes de menor poder aquisitivo, a rede Dia pode ser vendida para gerar um fluxo de caixa maior para o Carrefour, que necessita se recuperar dos últimos prejuízos, ou também pode servir para pagar o ônus que os acionistas da companhia francesa vêm tendo depois das últimas tomadas de decisão", analisou o advogado Mário Nogueira, da Demarest Advogados.

O especialista acompanhou a divulgação da meta do Carrefour de explorar o potencial de crescimento das lojas Dia, dedicadas a preços baixos. Para isso, o grupo planeja implementar, na rede de descontos, redução de custos, desenvolver o programa de fidelidade e oferecer produtos frescos e perecíveis, por meio de um processo de industrialização, além de acelerar a expansão nos países emergentes, forte alvo do Dia. Tal cenário vai ao encontro da possibilidade acenada pelo empresário Abílio Diniz, um dos sócios do Grupo Pão de Açúcar, de continuar na briga pela subsidiária brasileira do Carrefour - agora sem precisar adquirir a marca Dia. "Apesar do que o presidente do grupo disse, ele não chegou a negar oficialmente que essa possibilidade existia", disse Nogueira.

Em meio a rumores de que o Carrefour pode vender seus negócios a nações em desenvolvimento, o executivo-chefe do grupo, Lars Olofsson, destacou que está comprometido com essas regiões. De acordo com o empresário, a estratégia do Carrefour é chegar à liderança do mercado em países como o Brasil, a China e a Indonésia. Em uma assembleia de acionistas tumultuada, num centro de convenções de Paris, na França, o presidente do conselho de administração do Carrefour, Amaury de Seze, renunciou ao cargo, que passou a ser acumulado por Olofsson. "A hora de reunir as duas funções chegou", havia declarado De Sèze, antes de pedir demissão. Ele continuará a fazer parte do conselho.

Olofsson afirmou que está aberto a oportunidades de expansão no interior dos mercados emergentes. "Devo estudar tudo o que acontece e isso deve ser feito para avaliar o potencial de crescimento do Carrefour", disse. Ao que parece, o grupo não nega a possibilidade, porém um dos representantes do conselho diretor do grupo disse que o Carrefour não vai abrir mão do controle majoritário de divisão no Brasil, o que indica uma nova convergência de opiniões no grupo. Olofsson defendeu um programa de contenção que visa a economizar 4,5 mil milhões de euros nos próximos três anos, para tentar uma reativação da marca comercial na Europa.

Dia

Os acionistas do Carrefour aprovaram a cisão da cadeia de descontos Dia, durante uma atribulada reunião, que revelou muito da tensão existente na varejista francesa em dificuldades. O até então presidente do Carrefour, Amaury de Sèze, ao longo do dia, anunciou o plano de pedir demissão para a próxima reunião do conselho de administração da empresa. Então recomendou que o conselho nomeasse o executivo-chefe, Lars Olofsson, para o cargo. O movimento coloca Olofsson na linha de frente para uma pesada transformação da companhia. O projeto ficou mais próximo de sua conclusão, com a aprovação da cisão do Dia, aceita por 77% dos acionistas. A cadeia de descontos terá suas ações listadas na Bolsa de Madri em 5 de julho, e cada investidor do Carrefour receberá uma ação do Dia para cada ação do Carrefour.

Olofsson também está avaliando inúmeros outros projetos como parte de uma revisão de três anos lançada há um ano. O executivo está renovando a cadeia de hipermercados na Europa e implantando milhares de supermercados da marca Carrefour. Enquanto as decisões eram tomadas, mulheres disfarçadas de homens protestaram pela falta de mulheres nas posições seniores de gestão da empresa. Houve também protestos de trabalhadores franceses, belgas e espanhóis que se opõem ao plano de separar o Dia do grupo Carrefour.

A Assembleia Geral de Acionistas do grupo varejista francês Carrefour começou ontem sob o impacto do anúncio de que os lucros operacionais da empresa devem cair 35% no primeiro semestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2010. A projeção se deve ao ambiente econômico francês. Ainda assim, a varejista mantém metas de aumento de lucros.

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