jornal Brasil Econômico 16/12/2011 – Ana Paula Ribeiro
Em um plano agressivo de crescimento, o Bradesco inaugurou no segundo semestre do ano 1.003 agências. De efeito imediato, o banco consegue ultrapassar o Itaú em número de pontos de atendimento tradicional, chegando a 4.679 no país. No entanto, irá amargar no curto prazo o aumento das despesas operacionais até que esse investimento seja maturado e comece a dar retorno de fato à instituição. “Esse plano mostra confiança no Brasil.Queremos nos diferenciar pela capilaridade”, afirma o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi.
O concorrente Itaú somava 4.005 agências em setembro — e, mesmo com a previsão de abertura de cerca de 80 unidades no últimos trimestre, perderia a liderança de agências entre os bancos privados. Para o Bradesco cumprir o plano de expansão — incluindo a inauguração de 48 agências feita entre janeiro e junho deste ano — e reformar pontos de atendimento já existentes, o banco investiu R$ 890 milhões no ano e contratou 5,9 mil funcionários.
Trabuco admite que esses gastos irão afetar o nível de despesas da instituição,mas que a rede já em funcionamento dará sustentação ao investimento até que as novas agências comecem a dar retorno. “Vamos ter sim um pequeno impacto”, diz.
Uma agência demora cerca de dois anos para começar a dar retorno, mas o banco alterou a estrutura de custos para antecipar esse prazo. Uma das estratégias foi abrir agências de menor porte, com reduzido número de funcionários.
No ano até setembro, as despesas administrativas e de pessoal do Bradesco somaram R$ 17,65 bilhões, um crescimento de 17,3% em relação ao mesmo período de 2010. Na avaliação do presidente da Austin Rating, Erivelto Rodrigues, o aumento nas despesas deve persistir no curto prazo, até que o investimento seja equacionado. “Vai ter uma elevação da despesa administrativa, mas acredito que nada representativo”, diz.
Rodrigues pondera que esse investimento é necessário para o crescimento do banco em um ambiente de poucas oportunidades de aquisição. O plano de abertura de agências foi uma das saídas encontradas pelo Bradesco para compensar a perda do Banco Postal, que conta com mais de 6 mil pontos no Brasil e que a partir do dia 2 de janeiro passará a ser administrado pelo Banco do Brasil.
Parte das agências abertas está em localidades em que o correspondente bancário dos Correios tinha um volume significativo de operações. Também foi preciso reforçar a presença no Rio de Janeiro, onde o Bradesco assumirá a folha de pagamento dos mais de 400 mil servidores públicos estaduais a partir do mês que vem. “Nós queremos ser o banco para todas as cidades. As pequenas, as médias e as grandes”, ressalta Trabuco. O processo de abertura inclui cidades de todos os portes, como Tailândia, no Pará, com 70 mil habitantes e que tem apresentado crescimento devido ao aumento da produção de biodiesel.
A busca por cidades de todos os portes difere do modelo adotado pelo Itaú, que tem um plano de abertura de agências mais modesto. Entre janeiro e setembro, foram inaugurados 38 pontos. No final de novembro, durante reunião com analistas realizada em São Paulo, o presidente do Itaú, Roberto Setubal, afirmou que a instituição deveria concluir o ano com a abertura de cerca de 120 e, para 2012, a expectativa era abrir outras 150, sendo o interesse apenas nos grandes centros. “Diferente de alguns bancos, que estão abrindo agências em cidade com 5 mil, 10 mil habitantes, só estamos abrindo nos grandes centros, que possuem potencial de crescimento de negócios”, disse o executivo na ocasião.
Além de ter colocado o pé no freio no que diz respeito a novas agências, o Itaú tem como meta entregar em 2013 um índice de eficiência de 41%. Esse índice mede a relação entre despesas e receitas de uma instituição financeira e, quanto menor, melhor. No acumulado do ano até setembro, a eficiência do Itaú estava em 47,8%, o que significa que o banco gasta R 47,80 para obter R$ 100 emreceitas. O índice do Bradesco, no mesmo período, era de 42,7% e do Banco do Brasil, de 41,1%.
Bancarização
Na avaliação de Trabuco, com o ritmo da atividade econômica, o Brasil precisará ter, em um prazo de 10 anos, 150 milhões de pessoas com contas em banco, sendo seis milhões novos bancarizados apenas em 2012. Hoje o número de bancarizados não chega a 35 milhões. “Se isso não acontecer é porque algo não funcionou”, avisa.
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