portal Economia & Negócios 30/12/2011 - David Friedlander (O Estado de S. Paulo)
HSBC e Bradesco não chegaram a um acordo e as negociações para a venda da Losango, maior financeira do País, foram encerradas dias atrás. Dos quatro grandes bancos que discutiram a operação, apenas o Bradesco foi em frente e fez uma oferta de algo em torno de R$ 600 milhões.
As diferenças de posição entre os dois bancos eram grandes. O HSBC, que inicialmente esperava receber acima de R$ 800 milhões pela financeira, queria uma oferta maior. O Bradesco, por sua vez, insistia para que o HSBC assumisse todo o risco trabalhista da Losango.
O medo é que os funcionários da financeira, na sua maioria promotores de venda, ao deixar a empresa procurassem a Justiça e conseguissem ser considerados bancários, o que aumentaria os custos trabalhistas da operação. O HSBC aceitava assumir parte desse risco, mas o Bradesco queria que o vendedor ficasse com toda responsabilidade por eventuais despesas desse tipo.
A Losango foi colocada à venda porque o HSBC decidiu abandonar o varejo popular no Brasil e se concentrar na clientela de renda mais alta. Contratado para procurar potenciais compradores, o banco de investimentos JP Morgan manteve conversas com Bradesco, Banco do Brasil, Santander e Itaú Unibanco.
Dos quatro, o Itaú não mostrou entusiasmo pelo negócio em momento algum, segundo fontes que participaram da operação. Os outros três candidatos avaliaram a financeira do HSBC, mas apenas o Bradesco apresentou uma proposta firme.
Como não houve acerto, a estrutura montada para a negociação foi desfeita e os executivos enviados pela matriz do HSBC para participar das discussões retornaram à Inglaterra pouco mais de uma semana atrás. Procurados, HSBC, JP Morgan e Bradesco não se manifestaram.
Estratégia. Líder no segmento de crédito direto ao consumidor, com mais de 20% do mercado, a Losango tem uma carteira de cerca de R$ 3 bilhões em financiamentos. O HSBC comprou a empresa em 2003, por US$ 815 milhões, da filial brasileira do Lloyds Bank, da Inglaterra.
Na época, a operação foi vista como o primeiro grande passo do HSBC rumo a um processo de crescimento no Brasil - que nunca ocorreu na intensidade que o mercado imaginava. De lá para cá, o segmento de atuação da Losango foi perdendo espaço para novos produtos, como o crédito consignado, por exemplo.
O desejo de vender a Losango, que continua com o HSBC, faz parte da nova estratégia global do grupo britânico, anunciada no começo do ano. A intenção é abandonar áreas e países em que a instituição não tem escala para competir pelas primeiras posições, como o varejo popular brasileiro.
Por aqui, as prioridades passaram a ser os clientes de alta renda, financiamento de empresas e comércio internacional, aproveitando a presença do grupo em mais de 80 países. Recentemente, o banco anunciou que pretende contratar 600 gerentes de relacionamento para reforçar sua área comercial, no ano que vem.
Meses atrás, o movimento de aproximação com potenciais interessados na Losango alimentou a ideia de que o HSBC, sexto maior banco do País, estaria sendo negociado no Brasil. O banco negou.
No começo deste mês, numa ação em parte destinada a reforçar a ideia de que o grupo pretende continuar no País, o HSBC anunciou que vai transferir sua sede na América Latina da Cidade do México para São Paulo no começo do ano que vem.
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