jornal O Estado de S. Paulo 21/12/2011 - Célia Froufe
Com medo de perder a liderança do mercado, o site brasileiro de cotação de preços Buscapé resolveu comprar uma briga pesada com o Google. Nesta terça-feira, 20, a companhia entrou com uma representação no Ministério da Justiça contra a gigante americana, temendo a força da marca, que lançou no final de setembro o Google Shopping.
A denúncia de prática discriminatória contra o serviço é nova no Brasil, mas se junta a uma série de ações espalhadas pelo mundo contra o poder de mercado da companhia de tecnologia. No meio jurídico internacional, a atuação da americana já é conhecida como "Googlepólio".
São duas as queixas dos sites de comparação de preços. A primeira é a de que apenas os produtos do Google Shopping aparecem com foto na página de busca do Google, o que os tornam mais atraentes aos internautas. O temor em relação a uma possível concorrência desleal aumenta porque, conforme a Serasa/Experiean Hitwise, o Google detém 95% do mercado brasileiro de buscas e possui, assim, grande poder para alavancar seu novo serviço.
A segunda é a ordem em que os sites de comparação de preços aparecem no resultado da mesma pesquisa. A desconfiança é porque, apesar de novo, o Google Shopping já surge em posição considerada privilegiada em relação aos demais concorrentes em muitas das vezes. Em tese, quanto mais antigos e conhecidos, maior a frequência dos sites nos resultados da busca. Estar no alto da página ou apresentar imagem do produto pode significar um direcionamento maior às lojas que os vendem, que é o negócio do setor.
O Buscapé confirmou ao Estado que entrou com a representação contra o Google na Secretaria de Direito Econômico (SDE), do Ministério da Justiça. A companhia norte-americana disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que não foi notificada e não tem conhecimento de qualquer processo nessa área. A SDE, por sua vez, informou que avaliará quais serão os procedimentos a serem adotados nos próximos dias.
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Liderança. Líder de mercado, o Buscapé detém 31% da participação dos comparadores de preços em termos de tráfego, segundo a ComScore. Há, no entanto, pelo menos 10 empresas atuando nesse setor no Brasil e que poderão se beneficiar de uma ação contra a atuação do Google. Entre essas empresas que fazem cotação estão ShoppingUOL (24%), Bondfaro (18%), Zura! (7%), JaCotei (5%) e CotaPreço (5%).
Práticas de suposto abuso de poder de mercado do Google estão sendo investigadas em várias partes do mundo, como Inglaterra, Estados Unidos, Itália e França, entre outros. Ontem, uma carta foi envida para o órgão antitruste americano pelo comitê antitruste do Senado dos EUA após uma série de audiências para apurar práticas da companhia discriminatórias de direcionamento de buscas em vários setores da internet.
Para os parlamentares, o Google tem usado sua penetração no mercado de busca para entrar em mercados correlatos. A solicitação do Senado é a de que o Federal Trade Commission (FTC) investigue as possíveis práticas com profundidade. Na Itália, a empresa está sendo avaliada no segmento de notícias. Na França, o Google fechou um acordo com a autoridade antitruste local se comprometendo a cessar uma política discriminatória de espaços publicitários na internet.
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