jornal Folha de S. Paulo 07/01/2012 – Filipe Coutinho e Sheila D’Amorim
Ao mesmo tempo em que negocia com o governo federal um aporte de recursos para reforçar sua atuação em 2012, a Caixa Econômica gastou R$ 29 milhões por mês para uma empresa do concorrente Itaú prestar um serviço que ela poderia estar fazendo há pelo menos cinco anos.
Contratada sem licitação, a empresa Orbitall -que pertencia ao grupo Itaú até o dia 28 de dezembro, quando foi vendida- garantiu desde 2002 um espaço cativo com sucessivas prorrogações do contrato para processar cartões dos clientes da Caixa.
O acerto da Orbitall com o banco foi aditado 40 vezes em nove anos e considerado pelos fiscais do TCU (Tribunal de Contas da União), no final de 2009, "antieconômico" e classificado como "um irregular ciclo de contratação, com prejuízos reais".
Os auditores calcularam que a Caixa, à época, poderia estar economizando, no mínimo, R$ 12 milhões por mês se não fosse tão dependente tecnologicamente da empresa que pertencia ao Itaú.
O contrato com a empresa não previu a transferência de tecnologia e a empresa assumiu praticamente todo processo de registro, débito e cobrança das compras realizadas com cartões Caixa.
Depois do parecer técnico, a cúpula da Caixa Econômica, em setembro do ano passado, aumentou em R$ 34 milhões o valor total a ser pago até meados deste ano.
Quando terminar, em julho deste ano, esse contrato terá rendido mais de R$ 1,4 bilhão à empresa Orbitall.
Em 2010, a espanhola Indra Cartões foi a vencedora da quarta licitação para escolher uma empresa que ajudará o banco a se capacitar tecnologicamente para assumir o que hoje é feito integralmente pela Orbitall.
Com isso, a expectativa é que a partir deste ano o custo para processar os próprios cartões cairá para cerca de R$ 6 milhões por mês.
A Caixa deverá usar boa parte da sua própria estrutura em vez de transferir toda a responsabilidade à Orbitall.
A Indra fará a transição de sistemas com transferência de toda tecnologia para o banco estatal. Isso, é claro, caso não se repitam os problemas de outras licitações.
Antes do contrato com a Indra, outras três tentativas fracassadas ocorreram nos últimos sete anos.
Em 2005, a empresa CSU Card System foi a vencedora da disputa, cobrando R$ 5,4 milhões por mês. No entanto, ela teve o contrato rescindido três anos depois, justamente quando entraria na fase de transição do sistema de processamento de cartões.
A Caixa poderia então chamar a segunda colocada na licitação, mas preferiu começar tudo do zero.
Isso garantiu à Orbitall a prorrogação até 2012 do contrato considerado "antieconômico" pelo TCU.
Além da demora para viabilizar a licitação, a empresa substituta levará 26 meses para concluir a transição.
Em outras duas tentativas, não houve acordo em relação ao preço do contrato e nenhuma empresa se interessou.
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