jornal Brasil Econômico 03/01/2012 – Flávia Furlan
O mercado de cartões brasileiro ficará mais concorrido este ano, quando duas novas credenciadoras — companhias que fazem a comunicação entre o comércio e as bandeiras — entrarão em operação: as americanas Elavon e Tsys. As empresas chegam para competir com Cielo e Redecard, que hoje dominam a atividade de adquirência, e vão usar como estratégia aquilo que está sendo experimentado pelas veteranas, que é agregar valor às “maquininhas” disponibilizadas ao comércio, como com programas de fidelidade, sem entrar em guerra de preços.
Segundo Antonio Castillo, presidente da Elavon na América Latina — credenciadora que atua em 30 países e que tem um escritório com 100 funcionários no Brasil—, a companhia vai entrar no país com produtos diferenciados para cada tipo de varejista e tem serviços para empresas do setor aéreo, turismo, saúde e para o comércio eletrônico. “Acreditamos que o mais importante para o varejo é economia em cima das receitas operacionais. A estratégia da Elavon não é baseada em preços.”
A Elavon já fechou contrato com 200 varejistas de todos os portes, sendo que os menores devem começar um projeto piloto no primeiro trimestre de 2012 e os grandes vão entrar em operação até o final do primeiro semestre, já que estão passando por uma fase de desenvolvimento de produtos especiais a serem aplicados no país. A empresa já teem sua carteira bandeiras como Visa, MasterCard, Diners e Discover, mas não descarta a parceria com as bandeiras regionais.
Antonio Jorge Bueno, responsável pela América Latina da conterrânea Tsys, pondera que quer entregar no Brasil muito valor agregado às maquininhas. “O caminho neste mercado é a diferenciação”, afirma, sem adiantar qual a estratégia que a empresa seguirá no país quando começar a operar, o que deve ocorrer no próximo ano. A Tsys atua no Brasil como processadora de transações de cartões desde 2009, tendo como principal cliente o Carrefour. No mundo, a empresa tem capacidade de processar 7 bilhões de pagamentos ao ano e apenas nos Estados Unidos ela atua também como credenciadora, a exemplo do que ocorrerá no Brasil. De acordo com Bueno, a guerra de preços só estragaria o mercado para todo mundo e, portanto, não é a estratégia que deve adotar. “Conforme o preço abaixa, a qualidade do serviço cai e tudo tem um limite. Quero fornecer tanto benefício ao cliente que ele aceite pagar mais pelo meu serviço”, pondera.
As novas empresas de credenciamento entram em sintonia com as veteranas do setor. “Não vamos entrar em guerra de preços”, afirmaram em coro Claudio Yamaguti, presidente da Redecard, durante reunião com investidores, e Rômulo Dias, presidente da Cielo, em entrevista ao BRASIL ECONÔMICO.
As empresas reduziram suas margens durante o ano de 2010, quando houve em julho a abertura do mercado de credenciamento com o fim da exclusividade de Cielo prestar serviço de adquirência para a Visa e a Redecard para a MasterCard. Em ambiente mais competitivo, as companhias foram forçadas a reduzir preços, inclusive a taxa de desconto cobrada do varejista pelo aluguel das maquininhas. Para se ter uma ideia, entre o terceiro trimestre de 2010 e o mesmo período de 2011, a taxa da Redecard e da Cielo caiu 8%. No entanto, agora o que se percebe é que essa taxa tende a se estabilizar, uma vez que as empresas voltaram a buscar rentabilidade para garantir resultados.
O Santander, que entrou no mercado de adquirência em 2010 em parceria com a GetNet, vai no sentido contrário dos concorrentes e já anunciou, inclusive, a não cobrança da taxa de desconto aplicada ao varejista pelo aluguel das maquininhas. A meta é ganhar escala e depois buscar rentabilidade.
Preço baixo é importante para novata ganhar mercado
A estratégia de cobrar um preço menor é importante para quem está entrando no mercado de adquirência brasileiro, pois é deste modo que se conquista mais escala, segundo a equipe de pesquisas da corretora Planner. “O Santander está em primeiro lugar buscando volume porque precisa de participação neste setor, já que a Cielo e Redecard têm uma vantagem muito forte”, pondera a equipe de analistas. Para eles, vai ser difícil ganhar espaço como Elavon e Tsys estão propondo, apenas agregando valor às maquininhas, a não ser que se conquiste clientes com grande volume de transações. Dados do terceiro trimestre de 2011 mostravam que a Cielo detinha 56,7% do mercado de credenciamento, ante 42,1% da Redecard e 1,2% de outras. Pesquisa da Boanerges & Cia. Consultoria de Varejo mostra que, em 2016, quando o Brasil atingir 13,7 bilhões de transações ao ano, a Cielo terá parcela de 41,6% do mercado, contra 37,2% da Redecard e 21,16% das demais empresas.
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