jornal Valor Econômico 16/12/2011 - Carolina Mandl
No dia 5 de outubro, o padre Gentil, o prefeito João Carlos Minchillo e a primeira-dama Silvania Minchillo inauguraram a primeira agência do Bradesco na cidade de Guaranésia (MG), a 465 km de Belo Horizonte. Solenidades desse tipo - com direito a corte de faixa - têm se repetido quase todo dia.
Isso porque, até 2 de janeiro, data em que perderá 6.233 pontos de atendimento de uma só vez, o Bradesco já terá concluído a reposição dos posto dos Correios que passará nesta data para o Banco do Brasil, o Banco Postal. O que está em jogo é uma carteira de 5 milhões de clientes, fora os potenciais novos correntistas que o banco poderia arrebanhar na rede dos Correios.
Em uma operação de força-tarefa, o Bradesco construiu uma nova rede em seis meses. Só em agências, foram 1.003 inaugurações. Foram gastos R$ 890 milhões com abertura de novas agências e reformas. Considerando só a infraestrutura física - ainda faltam outros custos - o valor é menor, por enquanto, do que o lance de R$ 2,3 bilhões feito pelo Banco do Brasil para ficar com o Banco Postal. Com isso, o Bradesco alcançou 4.607 agências anteontem, passando o Itaú Unibanco, que tinha 4.005 unidades em setembro (o banco não forneceu dado mais atual).
Mais do que tijolos, a abertura de agência também gerou grande movimentação interna de postos. O programa de carreiras do Bradesco prega a acensão interna, por isso todos os 1.003 novos gerentes são funcionários promovidos. Muitos deles participaram de inaugurações em cidades que ainda não tinham agências. Em alguns casos, a solenidade contou com padres, pastores e prefeitos.
Segundo Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do banco, esse é o "chamado plano B", até agora guardado a sete chaves, para substituir o Banco Postal. "O programa está praticamente concluído. Temos 50 agências novas contratadas para 2012 e a partir daí é buscar produtividade", afirmou Trabuco, ontem, durante almoço de fim de ano com jornalistas.
Antes da perda do Banco Postal, o plano inicial do Bradesco era inaugurar 180 agências no ano. No segundo semestre, além das 1.003 agências, também foram abertos 799 postos avançados. A opção do Bradesco foi por abrir agências em cidades que mostram maior potencial de crescimento.
Mas a empreitada não parou por aí. A parceria com comerciantes, por meio do Bradesco Expresso - os correspondentes bancários -, foi acelerada. Segundo Josué Augusto Pancini, diretor-executivo, em cidades onde a instituição não tem agência, para cada posto do Banco Postal foram abertas pelo menos duas ou três unidades do Expresso. "Se abrir menos do que isso, vou ter reclamação. O comércio não vai dar conta."
A opção do Bradesco é pela capilaridade. "O Bradesco é o banco da pequena, média e grande cidade, de todas as cidades", disse Trabuco. A afirmação pareceu dialogar com outra, proferida na semana passada pelo banqueiro Roberto Setubal, que afirmou que o "Itaú é e continuará sendo o banco das grandes cidades".
Alguns resultados começam a ser vistos pelo banco. "A movimentação do Bradesco Expresso já é três vezes maior do que no Banco Postal", disse o diretor. Sobre o prazo para que o banco alcance resultados nas novas agências, Trabuco disse que em 2013 espera apresentar indicadores de produtividade muito bons. "Em 2012 [o investimento] ainda vai pesar, principalmente no primeiro semestre."
A inauguração de novos pontos de atendimentos, porém, não é suficiente. Por trás da abertura das agências, o Bradesco está lançando mão de uma estratégia para reter os 5 milhões de clientes que ganhou ao longo de dez anos de Banco Postal. Por contrato, os correntistas continuam com o banco. Mas nada impede que o Banco do Brasil os conquiste.
Por isso, o Bradesco guarda na manga pacotes de serviços que poderá ofertar aos correntistas do Postal. Dependendo do apetite do Banco do Brasil, o Bradesco poderá colocar esse plano em ação. O concorrente tem dito que seu plano principal com o Postal não é conquistar a clientela do Bradesco e sim atender melhor sua base de clientes das classes C, D e E.
Para não correr risco, o Bradesco já enviou aos 5 milhões de clientes do Postal uma carta informando o fim da parceria com os Correios. Em algumas cidades, carros e bicicletas de som são usados.
Mas na fila do Banco Postal da Cohab Itaquera, zona leste de São Paulo, o vendedor Geraldo Márcio de Oliveira ainda não sabia da mudança em 7 de novembro, quando o Valor visitou diversos postos dos Correios. "Ah, é? Ninguém me falou nada. Quer dizer que agora vou ter de gastar uma passagem de ônibus para chegar ao banco, além de gastar meia hora até lá? Difícil, hein?", afirmou. Oliveira não sabe que num raio de 2,5 km dali há cinco agências, 14 caixas eletrônicos e 23 correspondentes do Bradesco.
O banco sabe que essa comunicação não é fácil. Por contrato, os Correios não permitem que o Bradesco coloque cartazes nos postos informando a agência mais próxima. O máximo que o banco conseguiu agora em dezembro foi fixar um aviso dirigido apenas aos aposentados. (Colaboraram Vanessa Adachi e Fernando Travaglini)
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