jornal Valor Econômico 09/01/2012 - Aline Lima
As empresas de informação de crédito, sinônimo de restrição financeira, buscam novas fontes de receita. Pesos pesados como Serasa Experian e Boa Vista Serviços expandem a atuação para além da oferta de soluções que aumentem a segurança das vendas e empréstimos feitos por clientes corporativos.
Boa parte da estratégia passa pelo aproveitamento da imensa base de CPF e CNPJ que, reunida a outras informações cadastrais e até dados comportamentais, permite aos birôs ampliarem não só a gama de serviços como também o escopo de clientes a serem atingidos.
A Boa Vista Serviços prepara para o início deste ano o lançamento do Certo Car, produto que vai possibilitar a quem quiser comprar um veículo usado averiguar todo o histórico de multas e acidentes do carro. "Vamos fazer o mesmo com crédito imobiliário", afirma Dorival Dourado, presidente da empresa. "A venda direta a pessoas físicas é nossa próxima fronteira."
A Serasa, por sua vez, trabalha num estudo, encomendado por um grupo de concessionárias, que tem por objetivo identificar a propensão dos moradores da cidade de São Paulo à compra de carros de luxo num período de 12 meses - solução que está sendo desenvolvida pela unidade de marketing da empresa.
"O serviço de crédito foi a fortaleza que nos trouxe até aqui, mas é hora de evoluir", afirma Jorge Dib, diretor de relações com o mercado da Serasa Experian. O executivo, egresso do Google há pouco mais de um ano, levou para o birô de crédito o desenho de uma organização que considera ser mais verticalizada, com produtos diversificados.
Um dos negócios que vem ganhando destaque dentro da Serasa é o de certificação digital. Dib não revela o volume de receitas, mas diz que o desempenho tem surpreendido nos últimos dois anos e que o potencial ainda é grande. Ele prevê um expressivo aumento de demanda para o uso da certificação digital no envio de informações trabalhistas - Guia de Recolhimento do FGTS e de Informações à Previdência Social (GFIP) - no modelo ICP-Brasil, exigência prorrogada pela Caixa Econômica Federal para 30 de junho.
A Boa Vista, birô de crédito criado pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP) em conjunto com o fundo de private equity TMG no fim de 2010, também vem tentando incrementar suas receitas diversificando a grade de produtos. No ano passado, lançou 36 produtos que abrangem desde a venda de informações para empresas que querem prospectar novos negócios até a oferta de soluções para prevenção à fraude.
Os segmentos de saúde, telecomunicações, crédito imobiliário e cartão são aqueles em que a Boa Vista pretende dedicar mais atenção. Para tanto, a estrutura de atendimento da empresa foi redesenhada, de forma que os profissionais, especialmente de vendas, se tornem especialistas nessas áreas, e não em determinados produtos - a exemplo do que já foi feito pela concorrente Serasa Experian.
"Estamos nos estruturando para ser um competidor de referência", afirma Dourado, presidente da Boa Vista, que em maio do ano passado assumiu a operação brasileira da americana Equifax, bastante conhecida no segmento corporativo. Com pouco mais de um ano de vida funcionando como uma empresa (e não associação), a Boa Vista, segundo Dourado, investiu R$ 250 milhões em tecnologia e outras melhorias de infraestrutura. O orçamento para 2012 é um pouco maior, de R$ 300 milhões.
"O mercado brasileiro precisava de um competidor, de uma alternativa", diz Dourado, em referência direta à sua principal concorrente, Serasa Experian. A Boa Vista teve faturamento de R$ 500 milhões em 2011. A expectativa, em 2012, é que as receitas cresçam 30% na comparação com o ano passado. A receita total da Experian para o ano fiscal encerrado em 31 de março de 2011 foi de US$ 4,2 bilhões.
O acirramento da concorrência no mercado de informação de crédito, ao que tudo indica, está só começando.
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