11 de jul. de 2008

INFLAÇÃO INIBE CONSUMIDOR E FAZ CARTÃO DE LOJA PERDER FORÇA

jornal DCI 07/07/2008 - Luciana Bruno

A alta da inflação já está tendo impacto sobre a indústria dos cartões de crédito. Números divulgados pela Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) mostram que o gasto médio e as transações com os cartões private label (de lojas e redes) caiu em maio na comparação com maio de 2007. O mercado avalia que as pressões inflacionárias estão afetando o poder de compra da baixa renda, principal alvo desses plásticos. Para amenizar o problema, a indústria aponta o embandeiramento como solução para aumentar o uso do produto.

Segundo os dados da Abecs, os cartões de loja registraram queda de 3% no volume de transações por cartão, que passou de 6,3 em maio de 2007 para 6,1 em maio de 2008. Além disso, o gasto médio por plástico também teve baixa de 1%, para R$ 334,7. Os demais tipos de cartões tiveram comportamento diverso. No mesmo período analisado, o gasto médio por cartão de débito subiu 21%, para R$ 529,5, e de crédito 5%, para R$ 2,213 mil. "Acredito que a causa dessa desaceleração do uso do private label é o alto nível de endividamento da classe baixa, que é a que mais utiliza esse plástico. Além disso, também pode ser um efeito da alta da inflação", afirma Gilberto Dib, presidente da consultoria Dib & Associados.

Apesar das baixas no que se refere à utilização, a emissão de novos cartões de loja continua forte. Em maio, o volume atingiu 173 milhões, alta de 20% na comparação com o ano anterior. O valor das transações chegou a R$ 53 bilhões, avanço de 19% sobre maio de 2007. "A base de cartões subiu mais rápido do que a ativação desses plásticos, mas isso não quer dizer que os private label estejam diminuindo", explica Marcelo Noronha, diretor de comunicação da Abecs. "Não acreditamos que a alta da inflação seja suficiente para provocar redução no ritmo de crescimento desta modalidade, porque entendemos que o principal fator de expansão seja a substituição de meios de pagamento, como cheque e dinheiro", completa. A estimativa do mercado é de que apenas 30% dos plásticos de private label em circulação são ativados. "É por isso que os emissores criam alternativas como o embandeiramento dos cartões, permitindo que o produto seja aceito em outros estabelecimentos além daquele que o emitiu", diz Gilberto Dib.

Algumas das empresas que já migraram seus cartões anteriormente "puros" para plásticos com a bandeira Visa ou Mastercard - aceitos em quaisquer estabelecimentos - foram Carrefour e Riachuelo. Segundo fontes, o cartão bandeirado já supera atualmente o mercado de private label "puro". Segundo Dib, outra alternativa para o mercado são os plásticos embandeirados que limitam o uso em concorrentes, como os emitidos pela GoodCard, os open private label.

O Banco do Brasil é uma das instituições que atuam com cartões de rede embandeirados desde o final de 2006, cerca de dois anos depois que seus concorrentes passaram a atuar no segmento. Para ganhar espaço, a estratégia da instituição foi justamente apostar nas parcerias com o varejo, já oferecendo o plástico com bandeira. Hoje, a instituição conta com 37 parcerias, com empresas como Petrobras, General Motors, Telefonica, Gol, além de empresas com mais penetração na baixa renda, como Lojas Maia, Saraiva, Novo Mundo, Dicico, entre outras. Há mais 18 contratos sendo analisados e que devem ser fechados até o final do ano, explica Alexandre Correa Abreu, diretor de cartões do BB. "O grande valor que o private label híbrido gera é manter a compra na loja, possibilitando ao mesmo tempo que esse cliente compre em outros estabelecimentos, o que permite maior receita para o lojista", diz. O banco conta com uma base de 1 milhão de cartões de rede, sendo que a meta é atingir até 2 milhões no final de 2008.

O faturamento de cartões do BB atingiu, em junho, R$ 5 bilhões, encerrando o semestre em R$ 29 bilhões, alta de 28,3% sobre mesmo período de 2007. A instituição também ampliou sua fatia de mercado de 15,9% para 16,5%. No total, foram ativados 2,9 milhões de novos cartões.

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