jornal Valor Econômico 23/11/2010 - Adriana Cotias
Maior varejista do Brasil, com um faturamento combinado de R$ 40 bilhões após a fusão da Globex com a Casas Bahia, da família Klein, o Grupo Pão de Açúcar parece querer ditar um novo padrão de vendas parceladas no Brasil. A decisão de mexer nos prazos, um dos componentes mais sensíveis nas vendas do comércio, tem sentido econômico e, ao mesmo tempo, visa absorver, de maneira sustentável, uma nova massa de consumidores que está chegando ao sistema financeiro pela via do varejo, diz o vice-presidente de relações corporativas, Hugo Bethlem.
"O varejo não percebeu o vício, de que três vezes sem juros leva a seis, que leva a 10 vezes, é uma ilusão de ótica. Passamos a dar crédito de graça para valores altos e para quem não precisa." Tal expediente foi muito usado para acomodar bens de maior valor agregado no orçamento do consumidor, só que isso, ao longo do tempo, foi construído às custas da própria margem do setor.
Na Eletroshopping, segunda maior varejista do Nordeste, os prazos, que chegaram a 15 e 17 vezes em promoções ao longo do ano, vão se limitar a 12 meses neste Natal nas vendas com cartões com bandeira, conta o vice-presidente, Fernando Freitas. "No Recife chegamos a ver casos de 24 meses, mas não é a nossa prática, não há 'spread' para se fazer isso, a margem não aguenta porque o custo do cartão em prazos muito longos fica muito alto", diz.
Olhando adiante, porém, com a inadimplência sem mostrar sinais de deterioração nas carteiras de consumo, o coordenador geral do Programa de Administração do Varejo (Provar), Claudio Felisoni, da Fundação Instituto de Administração (FIA), vislumbra, moto-contínuo, uma tendência de alongamento no crédito.
Estudo da entidade mostra que o consumidor ficou mais sensível a prazos de 2008 para cá. Naquele ano, um aumento de 1% nos prazos elevava as vendas em 0,15%. Em 2010, esse número praticamente triplicou, para 0,44%. Nesse intervalo, o prazo médio das carteiras de pessoa física subiu 11,43%, para 540 dias (18 meses), mas ainda pode chegar a 24 meses, estima Felisoni.
No segmento de confecção, qualquer aumento de prazo implica incremento do tíquete médio, conta o diretor de crédito e risco da Riachuelo, José Antônio Rodrigues. Por isso, a financeira ligada a varejista, a Midway, já tem tudo engatilhado para financiar o consumidor no cartão próprio em até 10 vezes. Conforme exemplifica, ao se esticar o financiamento de oito para 10 meses, as vendas por cliente têm um aumento de 60%, de R$ 80 para R$ 130. Como moda e as linhas de cama, mesa e banho são perecíveis e com valores relativamente mais baixos, não dá para se estender os planos muito mais e o limite estaria em 12 meses.
Já em veículos, o prazo médio de financiamento tem se mantido em 42 meses desde o ano passado. Embora tenha havido uma redução do prazo máximo, de 80 meses para 72 meses, o consumidor raramente recorre ao financiamento mais longo, conta o presidente da Anef, Décio Carbonari de Almeida. "Só um terço dos consumidores se financia no prazo mais longo e mesmo assim liquida a operação antecipadamente, trocando o automóvel por outro no meio do caminho."
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