jornal Brasil Econômico 12/11/2010 - Thais Folego
O setor de transporte rodoviário movimenta cerca de R$ 100 bilhões por ano no Brasil, sendo mais de 50% no nicho de caminhoneiros autônomos, que são contratados por transportadores e embarcadores. Uma grande parte do dinheiro e dos protagonistas dessa atividade, porém, vivem na total informalidade, por conta das fraudes e crimes que ocorrem no sistema de pagamento entre a transportadora e os caminhoneiros autônomos, hoje feito por um documento sem nenhum valor legal chamado de "carta-frete". O meio de pagamento eletrônico cartão, no entanto, promete ser o elo de formalização e eficiência dessa cadeia, que envolve transportadoras, embarcadoras, caminhoneiros, postos de gasolina e fornecedores do segmento.
Para capturar parte desse mercado, o Bradesco está reforçando as parcerias que já tem e fazendo novas para se posicionar como o principal provedor de meios de pagamento para o setor de transportes de cargas rodoviárias. O banco acaba de assinar com a CTF, empresa de gestão de combustíveis, mais um serviço que será agregado ao Cartão Bradesco Transportes e ajudará a fazer a gestão e controle do frete.
Em 2006, numa iniciativa pioneira, Bradesco e Pamcary, gestora de riscos e informações logísticas de transporte de cargas, juntaram suas especialidades e lançaram um cartão por meio do qual a transportadora deposita o valor do frete, combustível, pedágio e despesas de viagem do caminhoneiro autônomo. Ainda em 2006, a gestora de frete Apisul também fechou parceria com o Bradesco para oferecer o cartão para seus clientes. Desde o início, os cartões foram emitidos na bandeira Visa. que no ano passado criou um produto específico para o setor: o Visa Cargo.
Plataforma de gestão
Juntas. as três empresas de gestão de transportes com o Bradesco oferecem uma plataforma de serviços às transportadoras, o que inclui gerenciamento de riscos e frotas, quitação de frete, gestão de combustível, emissão de nota fiscal de consumo de combustível e carga remota de Vale-Pedágio. "Concentramos num único meio de pagamento (cartão) os serviços necessários para contratar o motorista autônomo e monitorar o frete", resume Márcio Parizotto, diretor da Bradesco Cartões.
Arie Halpern, presidente da CTF, explica que a plataforma permite maior controle da viagem e racionalização dos custos para a transportadora. "Se por um lado transportadoras que contratam caminhoneiros autônomos terão acesso a um sistema de gestão de fretes, do outro, centenas de milhares de caminhoneiros terão acesso à cidadania, pois vão ter como comprovar renda, ter acesso a serviços financeiros e crédito", completa Ricardo Miranda, presidente da Pamcary.
A classe de transportadores autônomos hoje é formada por cerca de 1,19 milhão de caminhoneiros. Segundo Miranda, 500 mil não possuem conta bancária. Pelo sistema da carta-frete, cujo uso foi proibido por lei em junho e agora aguarda regulamentação, o caminhoneiro só pode descontar o "documento", emitido pela transportadora, em postos de combustíveis associados à transportadora. Nesse sistema, ele não tem liberdade para escolher o posto de abastecimento, perde dinheiro com o desconto do do valor da carta-frete com deságio e não consegue comprovar renda para obter crédito e trocar o caminhão, por exemplo.
Com o cartão, que deve ser previsto como opção de meio de pagamento na regulamentação da lei, se fecha a lacuna física e legal que existia entre o dinheiro pago da transportadora ao caminhoneiro autônomo, explica Paulo Cunha, diretor-presidente do Grupo Apisul.
Sistema reduz em até 10% custo de transportadora
Do custo total de um frete pago a um caminhoneiro autônomo, cerca de 60% representa gastos com combustível. Com o sistema de carta-frete hoje não é possível controlar o gasto com diesel. Mas com a integração do cartão do Bradesco em parceria com a Pamcary e Apisul com o sistema de gestão de combustível da CTF será possível monitorar quanto, onde e a que valor o caminhoneiro está abastecendo. A CTF possui parcerias com os postos BR e Ipiranga, onde tem um sistema de antena na bomba de combustível, que identifica o caminhão (que possui outra antena) e transmite todas as informações do abastecimento para o sistema das gestoras de frete e da transportadora. Tudo isso é integrado ao cartão. Com isso evita-se fraude e gastos indevidos e a transportadora consegue economizar até 25% com combustível, equivalente a 10% de economia do valor total do frete.
ENTENDA A PLATAFORMA
1. Carregamento remoto do cartão
No portal do Bradesco ou das empresas de gestão de frete a transportadora que contrata o caminhoneiro autônomo consegue carregar remotamente o valor do frete que será depositado no cartão do motorista. No site do banco, a empresa transportadora ou embarcadora também consegue solicitar cartões, crédito rotativo e financiamento cara sua operação.
2. Serviços para o caminhoneiro
De porte do cartão, o caminhoneiro autônomo gasta o valor depositado pela transportadora em postos de gasolina, paga pedágio, saca dinheiro nas agências do Bradesco, além de gastar o valor na função Visa Electron. Há a opção de um cartão adicional, que o motorista deixa com a família, em que parte do pagamento pelo serviço do frete fica disponível.
3. Vantagens para as partes
Para a transportadora, a integração do cartão com a gestão do frete proporciona otimização do processo de pagamento, redução de custos, controle e gestão e agilidade na liberação de viagens e segurança. Para o caminhoneiro, as vantagens são economia e liberdade de escolha, praticidade e segurança, formalização e garantia de recebimento do frete.
Nenhum comentário:
Postar um comentário