25 de nov. de 2010

MERCADO AVALIA SE ITAÚ PODE FECHAR CAPITAL DA REDECARD

jornal Valor Econômico 25/11/2010 - Adriana Cotias

Desde que a Redecard divulgou os resultados do terceiro trimestre, no fim de outubro, as ações da companhia passaram a viver um inferno astral na Bovespa e têm sido cotadas abaixo do valor da oferta pública inicial (IPO, em inglês), de julho de 2007, de R$ 27. Em menos de um mês, os papéis caíram 6%. O desempenho lançou dúvidas sobre os investidores se, no nível atual de preço - a R$ 22,39 - não valeria a pena o controlador, o Itaú Unibanco, fechar o capital da empresa e incorporar o negócio de captura de transações com cartões debaixo da sua própria estrutura.

Uma das hipóteses aventadas pelo mercado é de que o banco poderia, assim, converter o ágio de uma eventual aquisição de ações dos minoritários em créditos fiscais. Seria ainda uma oportunidade para reavaliar o ativo e fortalecer a sua capitalização, já que no balanço do terceiro trimestre, o investimento Redecard estava registrado pelo valor patrimonial, a R$ 540 milhões, ante uma capitalização de mercado na casa dos R$ 14 bilhões. Os ganhos não-realizados, proporcionais à fatia da instituição no negócio (50%), estariam, portanto, na casa dos R$ 7 bilhões.

À luz dessas especulações algumas casas de análise passaram a ponderar se haveria sentido econômico numa iniciativa do gênero. Henrique Caldeira, do Barclays Capital, acha que não e estende a sua avaliação à Cielo, que tem no seu bloco de controle Bradesco e Banco do Brasil. Para o especialista, o argumento do benefício fiscal, estimado em R$ 1,9 bilhão no caso do Itaú Unibanco, é controverso, já que a própria Receita Federal tem tratado a questão com rigidez e investiga, por exemplo, se na fusão da BM&F com a Bovespa houve a geração de benefícios artificiais. E, com o índice de Basileia do Itaú em 15,3%, o reforço de capital também não faria sentido. A regulação corrente determina 11%, havendo, portanto, folga para expandir o portfólio de crédito.

"A Redecard, dentro do Itaú, seria um ativo difícil de se precificar", diz Caldeira. "Além disso, abriria espaço para novos adquirentes entrarem no mercado." Isso porque com a operação incorporada, a instituição não teria como absorver lojistas que recebem seu movimento com cartões em outros bancos. Para fazer a recompra, o banco ainda teria que desembolsar cerca de R$ 7 bilhões.



Para Luciana Leocádio, da Ativa, não são um ou dois trimestres ruins que levariam o Itaú a fechar o capital da Redecard. "O resultado tem sido afetado pela estratégia mais agressiva de ganhar 'market share', no curto prazo só se vê uma fotografia ruim, de aumento de custos, mas o banco vê o segmento de cartões como de alto potencial de crescimento."

A Redecard, por meio de sua assessoria de imprensa, disse que a empresa não tem informações a respeito de um eventual fechamento de capital e que a decisão cabe ao controlador. O Itaú não quis comentar o tema.

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