jornal Valor Econômico 24/11/2010 - Adriana Cotias
Entre os países que compõem o bloco dos Bric (sigla para Brasil, Rússia, Índia e China), o Brasil é o segundo maior mercado em cartões emitidos e volumes movimentados. É o último da lista em financiamento no crédito rotativo, mas no quesito lucratividade, ocupa o primeiríssimo lugar.
Essa fotografia faz parte de estudo da consultoria inglesa Lafferty, presente em mais de 65 países e que, recentemente, se estabeleceu no país por meio de uma "joint venture" com a Partner Conhecimento. A partir do escritório local vai prestar serviços de consultoria para outros mercados da América Latina e do Caribe.
De acordo com o levantamento, o Brasil fechou 2009 com 567 milhões de cartões, entre crédito, débito e unidades emitidas por lojistas ("private label"), gerando uma movimentação financeira de US$ 128,5 bilhões. A China tinha então 1,8 milhão de plásticos, com quase o dobro do giro brasileiro, o equivalente a US$ 293,1 bilhões. Enquanto o consumidor local gastou, em média, US$ 937 por cartão que levava na carteira, o chinês teve uma despesa de US$ 1,538 mil.
Mas quando se fala em financiar compras por meio do cartão, usando-o efetivamente como ferramenta de crédito, o Brasil teve o pior desempenho, com uma média, por cartão, de US$ 192 no rotativo, enquanto Índia (US$ 278), Rússia (R$ 553) e China (R$ 616) estão à frente.
Isso não impediu, porém, que o país liderasse em rentabilidade, com um lucro por cartão de US$ 20 no ano, seguido pela Índia, com US$ 12 e pela Rússia, com US$ 5. A China, por sua vez, teve prejuízo de US$ 1 por cartão. Nessa conta foram excluídos os cartões de loja no Brasil. Já o lucro antes de impostos do conjunto de empresas que atuam na cadeia de meios eletrônicos de pagamentos também foi mais favorável para o país, com um resultado anual de US$ 3,75 bilhões, com a Índia em segundo lugar com distantes US$ 250 milhões. Para se chegar a esses números a Lafferty considerou itens como receitas obtidas com credenciamento, com juros, comissões e tarifas de transações no auto-atendimento.
Os números excepcionais do Brasil explicam por que o mercado local entrou no radar dos investidores estrangeiros, disse o presidente do Lafferty Group, Michael Lafferty, que está no país para uma série de apresentações, acompanhado de especialistas do Reino Unido, Canadá e Estados Unidos. "O Brasil sabe como ganhar dinheiro com esse negócio." Para ele, possíveis mudanças regulatórias no setor não diminuem a atratividade porque esse tipo de risco existe em qualquer mercado. É o que ocorre nos Estados Unidos, país onde nasceu o cartão de crédito e cujo setor ainda passa por mudanças.
Entre os interessados em conhecer melhor o mercado brasileiro estão, principalmente, empresas do ramo de credenciamento, tecnologia, comércio eletrônico e de pagamento móvel.
Um nome já certo para ingressar no país é a americana Global Payments, que na sua última teleconferência de resultados, em outubro, revelou costurar uma parceria com um banco brasileiro para começar do zero uma operação no ramo de captura de transações.
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