Pela primeira vez nos últimos dez anos, a GE Money do Brasil será comandada por um brasileiro, Roberto Bronzere, que cuidava da área de financiamento de veículos. Bronzere acaba de ser nomeado presidente interino da GE Money. Ele substitui o checo Ivan Svitek, que presidiu as operações brasileiras por cinco anos e foi trabalhar no Home Credit Finance Bank (HCFB), da Rússia.
Não está definido se Bronzere será efetivado ou se a GE Money contratará outro presidente. Mas isso não inquieta Bronzere, 34 anos, há cinco na GE Money, que só está preocupado em "entregar o resultado que prometi".
Seus desafios não são triviais. A GE Money quer crescer orgânicamente 30% a 50% ao ano nos próximos quatro anos e buscar parcerias ou aquisições que complementem seu portfólio de produtos e ampliem seu espaço no mercado. Além disso, o executivo tem a missão de colocar o balanço no azul. "A idéia é virar o jogo", disse Bronzere.
Os investimentos pesados dos últimos anos na expansão fizeram a GE Money fechar no vermelho. O prejuízo foi de R$ 62,8 milhões em 2006, reduzido para R$ 12,3 milhões em 2007. No primeiro trimestre deste ano, o prejuízo atingiu R$ 6,4 milhões.
O sinal verde para as aquisições e parcerias foi dado pelo novo presidente da GE Money mundial, nomeado em fevereiro, William Cary, quando fez a primeira visita ao país no cargo, em abril.
Apesar de o grupo GE estar se reestruturando em várias partes do mundo e em várias áreas de atuação, a GE Money é um negócio em que pretende investir, especialmente nos mercados emergentes, de mais rápido crescimento, como o brasileiro. A GE Money fechou o balanço global de 2007 com ativos totais de US$ 211 bilhões, operações em 55 países e lucro de US$ 4,3 bilhões.
Na ocasião, Cary afirmou ao Valor que queria aumentar a dimensão da GE Money no Brasil, onde ocupa atualmente o lugar de 54º maior banco, com ativos totais de R$ 1,8 bilhão, carteira de crédito de R$ 1,6 bilhão, depósitos de R$ 1,4 bilhão e patrimônio de R$ 285,5 milhões, de acordo com dados de março do Banco Central (BC).
"O Brasil está no foco. Vamos aproveitar o momento em que o Brasil é um bom lugar para se investir", disse Bronzere.
Um dos novos negócios em que a GE Money quer entrar com parceria ou aquisição, disse Bronzere, é o mercado de crédito para empresas médias, o "middle market", para contrabalançar os momentos em que o mercado de financiamento ao consumo estiver desaquecido.
O executivo está ciente de que este é um negócio altamente competitivo nos dia de hoje, alvo não só dos bancos médios, tradicionais no negócio, e também cobiçado pelas grandes instituições varejo. "Para nós é um desafio estar competindo entre players de peso", afirmou.
Apesar de criada para financiar a venda dos eletrodomésticos fabricados pela General Electric, na época da grande depressão americana, a GE Money atua também no crédito para empresas médias em outras partes do mundo, exatamente por meio de parcerias, como a estabelecida com o banco colombiano Colpatria, do qual comprou uma participação minoritária de 39,3% por US$ 100 milhões e tem a opção de adquirir mais 10%.
Outros dois exemplos de parcerias de sucesso citadas por Bronzere são a estabelecida, em 2005, com a rede da América Central BAC/Credomatic, que opera em seis países da região (Guatemala, Honduras, El Salvador, Nicarágua, Costa Rica e Panamá); e a da Turquia, com o grupo Dogus no terceiro maior banco do país, o Garanti Bank, com 5,8 milhões de clientes e uma rede de 450 agências.
A GE Money é também bastante ativa em aquisições. Neste ano, comprou por 800 milhões de euros um banco na Polônia, o BPH.
No mercado brasileiro, entrou há dez anos, por meio de aquisição, neste caso não bem sucedidas, com a compra do Banco Mappin e da financeira Mesbla, de olho no financiamento ao consumo das duas então poderosas redes de varejo, que vendiam juntas, na época, US$ 1 bilhão, 60% financiados. As empresas quebraram e a GE teve que recomeçar do zero. Em 2005, disputou real por real com o Bradesco a compra do Banco do Estado do Ceará (BEC), em 2005.
Agora, a GE Money já está em contanto com bancos de investimento , disse Bronzere, para definir quais são as alternativas de aquisição. Pode ser uma participação minoritária com ou sem possibilidade de assumir o controle. O passo seguinte será dar o mandato para os contatos efetivos e negociação. "Mas estamos dispostos a pular algumas etapas para agilizar o processo", disse Bronzere.
A GE Money também tem ambiciosas metas de crescimento orgânico que passam por passam por fechar o ano com ativos totais de R$ 2 bilhões e 95 lojas. As lojas vendem toda a gama de produtos. Mensalmente, são originados R$ 100 milhões em créditos. O funding é obtido no mercado interbancário, mas o banco pode lançar mão da securitização, por meio de fundos de investimento em direitos creditórios (FIDC) ainda neste ano.
Apesar dos sinais de desaceleração do crédito para a pessoa física e redução dos spreads, o banco está mantendo todas as linhas de crédito pessoal, consignado (funcionários públicos e aposentados), financiamento de veículos, cartões e crédito direto ao consumidor (CDC).
"Independentemente da desaceleração, há espaço para crescer no financiamento ao consumo do mercado brasileiro", afirmou Bronzere. A estratégia é forçar os produtos de maior rentabilidade. Mas o consignado, explicou, compensa com risco baixo as margens apertadas.
No financiamento de veículos, especialidade de Bronzere, algumas medidas de cautela já foram tomadas no início do ano: a idade máxima dos veículos usados financiados foi reduzida de 15 para 10 anos; e a relação entre o valor das parcelas e a renda do tomador foi diminuída de 30% para 20% a 25%.
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