jornal Brasil Econômico 01/12/2011 – Flavia Furlan
Depois de alcançar o feito inédito de tirar a americana Visa da liderança no ranking de bandeiras emissoras de cartões do mundo, no ano passado, e se tornar a nova gigante do setor com apenas nove anos de existência, a novata China UnionPay (CUP) não economizou visitas ao Brasil neste ano para, em 2012, ver seus plásticos serem usados nas maquininhas de estabelecimentos comerciais em território brasileiro.
A companhia vem expandindo aos poucos a aceitação de seus plásticos entre credenciadoras em todo o mundo, para depois passar a emiti-los em instituições financeiras. A presença no Brasil é estratégica, tendo em vista a realização no país de eventos mundiais como Copa do Mundo em 2014 e Olimpíada em 2016, que deve aumentar o fluxo ao país de turistas chineses e de outras nacionalidades onde a bandeira já emite cartão.
A CUP começou a marcar presença no Brasil por meio de uma parceria com a Redecard, anunciada no ano passado, para que os cartões emitidos pela gigante possam passar nas maquininhas da credenciadora. Agora, a companhia chinesa está alinhando parceria com a Cielo, conforme apurou o BRASIL ECONÔMICO. Procuradas, Cielo e CUP preferiram não se manifestar.
De acordo com Claudio Yamaguti, presidente da Redecard, a parceria com a chinesa está em fase de adaptação do sistema da adquirente para aceitação dos cartões da bandeira e, a partir de 2012, boa parte das maquininhas aceitará o plástico da CUP. “Mas o principal objetivo é ter um número grande de transações para a Copa do Mundo e a Olimpíada”, ressalta.
Yamaguti conta ainda que a bandeira chinesa vem ganhando visibilidade, mesmo com seu jeito reservado porque resolveu sair mundo afora depois de ter alcançado em seu mercado nacional rede de aceitação em64 mil estabelecimentos comerciais de 200 cidades. “Primeiro a empresa monta uma rede de adquirência nos países em que se instala e depois passa a emitir cartões junto aos bancos”, conta, sobre a estratégia da bandeira chinesa que já é emitida nos Estados Unidos e também no Canadá e seguirá a mesma lógica no país. Só no exterior são 65 bancos emissores de cartões da China UnionPay, em 17 países.
Emissor nacional
No Brasil, a companhia também já fechou acordo com o Itaú para realização de saques com seus plásticos nos caixas eletrônicos da instituição financeira, o que deve acontecer também a partir de 2012. O mesmo contrato prevê emissão dos plásticos que carregam o nome da gigante chinesa, mas o diretor do Itaú Unibanco, Fernando Teles, diz que não existem conversas ainda sobre isso. “Não temos necessidade de outra bandeira”, afirma.
Teles explica que a associação para saques com a bandeira visa o maior fluxo de turistas para a Copa e Olimpíada. “Mas o uso em pontos de venda deve ser maior do que aquele feito em caixas eletrônicos”, avalia.
O Bradesco também diz não trabalhar com a possibilidade de emissão de cartões da bandeira CUP e pondera que a proposta é fortalecer as parcerias com American Express, Visa e MasterCard. “Nesse momento não temos que expandir o número de bandeiras, ou então perdemos o nosso foco. Queremos juntar nossos esforços para a bandeira Elo”, afirma o diretor-geral do Bradesco,Marcelo Noronha, sobre a bandeira criada em parceria com Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.
As instituições ainda não veem grande impacto potencial da bandeira que, segundo dados do instituto de pesquisa Retail Banking Research, foi responsável no ano passado por 29,2% dos cartões emitidos no mundo, enquanto a Visa ficou com 28,6% do total. Até junho deste ano, a bandeira americana detinha 1,9 bilhão de cartões emitidos mundialmente, enquanto o número mais recente da CUP, de dezembro de 2010, aponta 2,3 bilhões de plásticos.
Eventos mundiais atraem bandeiras
A realização de um evento esportivo faz os gastos dos turistas no país sede dobrar, de acordo com pesquisa realizada pela Visa. Não é à toa que as credenciadoras estão expandindo sua rede de relacionamento com bandeiras estrangeiras para poder captar as transações do maior número possível de estrangeiros que vierem ao Brasil durante a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.
Além da China UnionPay, as máquinas da Redecard já aceitam outras 25 bandeiras, sendo que entre as estrangeiras ainda estão a americana Discover e a argentina Cabal. A Cielo, por sua vez, conta com uma rede de 15 bandeiras e no portfólio de estrangeiras tem a japonesa JCB. O banco Santander, que ingressou na área de credenciamento no ano passado, também está em busca de parceiras, mas ainda não fez nenhum anúncio.
Estratégia
Para bancar a concorrência das novas bandeiras nestes eventos, a Visa pode lançar mão de cartões pré-pagos que agregam mais funções do que o pagamento de compras. “Certamente vamos fazer o pré-pago”, diz o diretor-geral da Visa do Brasil, Rubén Osta.
Durante os Jogos da Juventude realizado em Cingapura, em 2010, a Visa emitiu 25 mil cartões pré-pagos que, além de permitir pagar contas, funcionava como mecanismo de pagamento de tarifas em transporte público e compra de ingressos para os jogos—eliminando a necessidade de filas ou de levar dinheiro em espécie.
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