jornal DCI 12/04/2011 - Marcelle Gutierrez
O setor de cartões de pagamento apresenta desde o final de 2010 certa instabilidade no mercado de ações. No período de 1º a 11 de abril, a Cielo caiu 4,62%, de R$ 14,30 por R$ 13,64. Já a Redecard apresentou queda de 5,56%, de R$ 24,65 por R$ 23,28. Segundo especialistas entrevistados pelo DCI, mudanças futuras provenientes das regulamentações do setor já interferem na decisão dos investidores.
O economista-chefe da Souza Barros Corretora, Clodoir Vieira, observa que a tendência de queda se dá desde o final de 2010 . "Percebemos no mercado que as quedas estão relacionadas às incertezas em termos de regulamentação do setor de cartões. O investidor está preocupado."
Em evento em São Paulo, em março, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, discursou sobre a importância da regulamentação no sistema financeiro nacional e ressaltou que mudanças devem acontecer a partir de junho de 2011, quando entra em vigor a regulamentação das tarifas de cartão de crédito. "Considero a resolução de tarifas bancárias um marco da regulamentação brasileira. Não só porque reduziu drasticamente os questionamentos da sociedade em relação a este tema, mas por ter sido uma solução que focou no aperfeiçoamento da transparência e da comparabilidade das tarifas bancárias. A regulamentação das tarifas de cartão de crédito segue a mesma lógica", disse o presidente do BC na época.
Para Álvaro Musa, presidente da Partner Conhecimento e promotor do evento C4, os reflexos das tentativas de regulamentação já começam a surgir. "Há dois ou três anos o governo se esforça para regulamentar o setor de cartões e isso se reflete agora."
Outro motivo para o baixo investimento nas adquirentes Cielo e Redecard, segundo José Eduardo Amato Balian, professor de Economia da ESPM, é a baixa volatilidade da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) nos últimos anos, que desde 2008 não ultrapassa os 73 mil pontos. "Há três anos que o mercado de ações está estranho, variando entre os 68 mil pontos, o que afasta o investidor no geral."
Apesar das quedas acionárias, o economista-chefe da Souza Barros Corretora, Clodoir Vieira, acredita que investir no setor de cartões continua a ser um bom negócio: "Essas empresas ainda pagam bom dividendos. Outra opção que dá para ganhar dinheiro é o curto prazo".
A utilização dos dividendos como forma de retorno aos acionistas pode ser observada com a Redecard, que em 2010 realizou distribuição de 95% dos resultados do ano por meio de dividendos e juros sobre capital próprio. O lucro líquido foi de R$ 1,4 bilhão, valor 0,3% acima que o registrado no ano anterior.
Já a Cielo finalizou o ano passado como líder do segmento, com lucro líquido de R$ 1,829 bilhão. Na BM&F Bovespa, é integrante do Novo Mercado, do Índice de Ações com Governança Corporativa Diferenciada (IGC) e do Índice de Ações com Tag Along Diferenciado (ITAG).
Fitch Ratings
A agência de risco Fitch Ratings elevou os IDRs (Issuer Default Ratings, ou ratings de probabilidade de inadimplência do emissor) em moeda estrangeira e local, da Redecard (RDCD3), de "BBB" para "BBB+", e afirmou a nota de longo prazo em "AAA(bra)".
A agência também afirmou o Rating Nacional de Curto Prazo "F1+(bra)" e atribui o fato à proposta de emissão do oitavo programa de notas promissórias, no valor de R$ 2 bilhões. A primeira série, de R$ 650 milhões, tem vencimento em 300 dias; a segunda, também de R$ 650 milhões em 330 dias; e a terceira, de R$ 700 milhões, em 360 dias.
Segundo o boletim, a elevação dos ratings reflete a melhora dos riscos de contrapartes associada ao sistema bancário brasileiro, já que mais de 95% das transações de crédito e débito são realizadas por meio de bancos com grau de investimento. Além disso, a Redecard se beneficia do suporte e da força de seu acionista controlador, o Itaú Unibanco Holding S.A. (Itaú Unibanco), pois a Fitch aumentou recentemente os ratings de grandes bancos brasileiros depois da elevação do rating soberano para "BBB".
A concorrência da adquirente com a líder Cielo e alterações no mercado de cartões de pagamento são desafios para a Redecard, segundo o boletim da Fitch. Somadas, as empresas respondem por cerca de 90% do mercado.
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