28 de abr. de 2011

FOCO DO CITI SÃO AS EMPRESAS, DIZ PANDIT

jornal Valor Econômico 28/04/2011 - Luciana Seabra

Sem escala para competir com os grandes bancos locais de igual para igual e sem oportunidades relevantes de aquisição à disposição, o Citigroup parece ter deixado para trás a ideia de insistir numa estratégia para ganhar mercado no varejo bancário brasileiro. A julgar pelas palavras do CEO mundial do banco, Vikram Pandit, em passagem pelo Brasil para participar do Fórum Econômico Mundial, o foco agora são as empresas, principalmente as que pretendem internacionalizar seus negócios.

Em conversa com jornalistas, ontem, em São Paulo, as operações de varejo praticamente passaram ao largo da fala do executivo para definir a estratégia do banco no país. No varejo, o interesse é pelos cartões de crédito, setor em que a empresa atua com a respeitável Credicard, e pelo promissor mercado de financiamento da casa própria, para o qual o banco ainda parece não ter uma estratégia clara. "Nossa perspectiva é de que há muitas pessoas altamente qualificadas no Brasil que podem tomar crédito para comprar casas ou gerenciar suas finanças", disse Pandit. "A questão é como podemos contribuir para esse mercado", completou.

Numa iniciativa semelhante a de outros bancos com uma plataforma de negócios global, como o HSBC, o Citi, terceiro maior banco dos EUA, quer tirar proveito do crescente fluxo de capitais e mercadorias entre os países emergentes. "Estamos completamente focados nisso. Somos o único banco na Ásia, América Latina, África e leste da Europa com tamanho suficiente para conectar esses mercados emergentes", disse o CEO.

Nos planos do Citigroup para o Brasil, o destaque maior fica com as grandes companhias com planos de internacionalização. "O número de multinacionais brasileiras tem crescido e podemos auxiliar com nossas plataformas de comercialização global." Empreendedores menores, que desejam se conectar com a América Latina e outros países do mundo, também estão na mira.

Nos últimos cinco anos, o Citigroup dobrou o número de funcionários no país e, somente no mês passado, 340 pessoas foram contratadas. Segundo Pandit, alguns executivos foram trazidos de outras filiais e ainda há planos de contratação para o país.

O executivo afirmou que focar uma clientela global, que pensa internacionalmente, é parte da estratégia do banco.

Pandit citou também a possibilidade de oferecer serviços e produtos, como cartões de crédito, a uma classe média crescente nesses países emergentes, mas as operações de varejo receberam menos atenção em seu discurso.

No primeiro trimestre do ano, metade dos lucros no segmento Citicorp - que inclui as unidades de banco de varejo e banco de investimentos do grupo - veio dos mercados emergentes.

Apostar nesses mercados, de acordo com Pandit, é um segundo passo na estratégia da companhia, que passa por um processo de transformação nos últimos dois anos. A primeira etapa foi a organização financeira, já superada, segundo ele: "Nós estamos extremamente bem capitalizados".

No cenário brasileiro e de outros países emergentes, Pandit considerou que a inflação é uma questão com a qual se preocupar, com muitos operando na capacidade máxima ou acima dela. Ele vê, entretanto, uma oportunidade de negócio na situação macroeconômica brasileira, ao mirar a outra face do excesso de demanda: a escassez de oferta. "O crescimento é completamente dependente de resolver a questão da oferta no Brasil. A quantidade necessária de investimentos será enorme nos anos que virão", afirmou Pandit.

O Citigroup conta com as iniciativas das empresas no sentido de aumentar a capacidade produtiva para fomentar seus negócios no país. "O atendimento ao segmento coorporativo é uma parte crítica da nossa estratégia. As companhias não vão levantar o capital que precisam por bancos convencionais, vão ter que recorrer a um conjunto mais amplo de possibilidades", disse o CEO, considerando que o banco está capacitado para oferecer esses serviços.

Para o curto prazo, enquanto a capacidade produtiva não alcança a demanda, o executivo considerou que as autoridades monetárias brasileiras "estão endereçando corretamente a inflação" e que a pressão de preços não coloca em risco o crescimento brasileiro e, consequentemente, do banco: "Não é uma questão de crescer ou não, é de quantas oportunidades o Brasil vai aproveitar e a que passo".

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