5 de jun. de 2008

CRÉDITO DEVE TER EXPANSÃO MENOR

jornal Valor Econômico 28/05/2008 - Alex Ribeiro

O Banco Central já identifica os primeiros sinais de acomodação no atual ciclo de expansão do crédito bancário, depois de o volume de empréstimos duplicar em pouco mais de três anos, ultrapassando em abril a marca de R$ 1 trilhão. "O crédito continuará crescendo, mas num ritmo menos acelerado do que o ocorrido nos últimos anos", afirma do chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

Em abril, o crédito bancário chegou a R$ 1,018 trilhão, ou 36,1% do Produto Interno Bruto (PIB). O BC espera que continue crescendo, tanto que sua projeção é que chegue ao fim do ano em 40% do PIB. Mas o ritmo de expansão tende a ser menos forte do que o visto recentemente.

Há um ano, em abril de 2007, o crédito crescia a uma taxa de 22%, comparado com o mesmo mês do ano anterior. Em dezembro de 2007, o ritmo de crescimento já havia subido para 28% e, em março passado, chegou a um pico de 31%. Em abril, houve uma estabilização, em 31%. A expectativa do BC é que, daqui por diante, fique neste patamar ou até mesmo recue.

Lopes observa que, nos últimos meses, houve uma mudança de composição no crédito bancário. Os empréstimos a pessoas físicas, que até então vinham liderando o ciclo de expansão de crédito, perderam um pouco do vigor. As operações com empresas, por outro lado, tomaram novo impulso no início do ano.

Em abril, o crédito para pessoas jurídicas com recursos captados no mercado doméstico avançou 37,8%, comparado com o mesmo mês de 2007. O ritmo é mais forte do que os 32% registrados em 2007. Lopes diz que, em parte, essa aceleração reflete o início da cobrança, em março, do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nas captações feitas pelos bancos no exterior, com repasse a empresas dentro do país. O imposto tornou as captações mais caras, e os bancos passaram a captar no mercado doméstico, por meio de depósitos a prazo.

O crédito a pessoas jurídicas, segundo Lopes, também está sendo puxado pelo forte nível de atividade, que leva empresas a buscarem recursos nos bancos para ampliar investimentos e financiar clientes. Nos 12 meses encerrados em abril, os empréstimos à indústria cresceram 35,5%, em setores dos mais variados, incluindo petroquímico, alimentício, metalurgia e químico.

O crédito a pessoas físicas, que vinha apresentando forte aceleração em 2007, cresceu 34,1% nos 12 meses encerrados em abril, mantendo o patamar observado neste início de ano. Os empréstimos consignados, outrora um dos principais motores da expansão do crédito, avançam a taxas mais modestas - 29% nos 12 meses terminados em abril. Ou seja, cresce menos do que o total de crédito a pessoas físicas. "Ainda é uma taxa de crescimento bastante expressiva, porém mais moderada do que se via no passado", diz Lopes.

Hoje, os empréstimos a pessoas físicas são puxados sobretudo por operações de "leasing" de veículos e financiamentos parcelados em cartões de crédito. Nos 12 meses encerrados em abril, as operações de "leasing" a pessoas físicas cresceram 124%, chegando a R$ 38,915 bilhões. O financiamento tradicional de veículos cresceu 23,3% em igual período, chegando a R$ 84,185 bilhões.

O "leasing" é isento de IOF, ao contrário do crédito tradicional, cuja alíquota desse imposto aumentou em janeiro de 1,5% para 3,38%. O "leasing" respondeu por 35% das aquisições de veículos no primeiro trimestre, segundo dados da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef) - percentual que supera os 30% observados em 2007. Na direção inversa, a participação dos financiamentos tradicionais nas vendas de veículos caiu de 38% para 30%. No primeiro trimestre, 30% das vendas foram feitas com pagamento à vista e 4% por consórcio.

O crédito parcelado por cartões de crédito cresceu 67,4% nos 12 meses encerrados em abril, chegando a R$ 35,639 bilhões. Esses são os empréstimos feitos pelos próprios lojistas, por meio de parcelamentos no cartão - diferente do crédito rotativo, concedido pelos bancos, que cresceu 25% em 12 meses, para R$ 19,530 bilhões. O forte crescimento está ligado à expansão da base de clientes de cartões e às boas vendas do comércio.

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