27 de jun. de 2008

MONITORAMENTO DE CARTÃO CRIA DISPUTA NOS EUA

jornal Valor Econômico 23/06/2008 - Jessica Silver-Greenberg (BusinessWeek)

A maioria das pessoas que contraem empréstimos sabe que um atraso nos pagamentos ou um saldo a pagar alto podem prejudicar seu crédito. Mas e freqüentar um salão de massagens, recauchutar um pneu ou recorrer a um conselheiro matrimonial? Segundo um processo movido pela Federal Trade Comission (FTC) em 10 de junho contra a emissora de cartões de crédito CompuCredit, essas atividades também contam.

Bancos, seguradoras e outras instituições financeiras usam os sistemas de pontuação de crédito para tomarem uma série de decisões sobre os consumidores, incluindo as taxas de juros cobradas sobre suas hipotecas, os limites de seus cartões de crédito e os prêmios mensais dos seguros de seus automóveis. Algumas usam muito a FICO, uma pontuação de três dígitos desenvolvida pela Fair Issac, uma financeira da Minneapolis, enquanto outras usam modelos próprios desenvolvidos por estatísticos. Mas as companhias não revelam os componentes de suas fórmulas, o que deixa muitos tomadores de empréstimos se perguntando quais fatores determinam seu destino final.

O processo da FTC contra a CompuCredit de Atlanta, por ela supostamente usar práticas de mercado "fraudulentas", oferece um raro vislumbre sobre o pouco transparente negócio de pontuação de crédito. Ele revela um mecanismo que defensores do consumidor e políticos há muito suspeitavam que existia - em que o comportamento de compra tem importância, e não apenas o histórico de pagamentos.

As alegações se concentram em parte no Aspire Visa, um cartão de crédito subprime da CompuCredit para tomadores de risco. A FTC alega que a CompuCredit não revelava adequadamente que monitorava os gastos e cortava as linhas de crédito se os consumidores usassem seus cartões em certos lugares. Entre eles estavam: lojas de recauchutagem de pneus, salões de massagens, bares, bilhares e agências de aconselhamento matrimonial.

"A companhia alardeava que os detentores de cartões podiam usá-los em qualquer lugar", afirma J. Reilly Dolan, diretor-assistente da FTC para práticas financeiras. "O que eles não diziam é que você poderia ser punido por determinados tipos de compras." A Federal Deposit Insurance Corp. (FDIC) também está tentando multar a CompuCredit em US$ 200 milhões pelos mesmos motivos.

Não é a primeira vez que a CompuCredit é investigada pelas autoridades. Em 2006, a emissora de cartões de crédito e outra instituição financeira concordaram em desembolsar mais de US$ 11 milhões para os consumidores e reformarem seus procedimentos de marketing e cobrança como parte de um acordo com o então procurador-geral do Estado de Nova York Eliot Spitzer, que havia iniciado uma investigação um ano antes, depois de receber várias queixas de consumidores.

A CompuCredit diz que o processo da FTC não tem mérito e defende suas práticas. "Toda vez que um consumidor acessa seu crédito, uma nova decisão de ampliar um empréstimo está sendo tomada", diz Rohit H. Kirpalani, conselheiro-geral da CompuCredit. "Esses modelos de pontuação são lugar-comum em todo o setor."

Com o aumento da competição, a melhoria nos bancos de dados e os avanços tecnológicos, as companhias podem incluir mais fatores do que nunca em seus modelos. E especialistas do setor afirmam que as instituições financeiras estão cada vez mais atentas ao comportamento do consumidor, como fez a CompuCredit. A preocupação é que as companhias possam regular os sistemas de pontuação de crédito de maneiras injustas ou tendenciosas, eliminando ou limitando os clientes com base em raça, sexo ou orientação sexual.

No caso da CompuCredit, as autoridades reguladoras estão implicando com a falta de transparência, e não especificamente com o uso da pontuação baseada no comportamento.

"Nós, enquanto consumidores, devemos estar cientes de que o comportamento é usado para determinar nossa qualidade de crédito", afirma a defensora dos consumidores Karen Gross, presidente do Southern Vermont College. "O que a CompuCredit notifica é o uso da informação para criar um sistema de pontuação de crédito mais robusto e potencialmente nefasto."

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