15 de jun. de 2008

VISA E MASTERCARD JÁ DIVIDEM O MESMO TERMINAL DE CARTÕES

jornal DCI 13/06/2008 - Luciana Bruno


As bandeiras de cartão Visa e Mastercard iniciaram em maio um projeto piloto em pequenos estabelecimentos da periferia de São Paulo para compartilhar equipamentos de POS (máquinas de cartão). O objetivo é expandir as operações que envolvem pequenos valores e em segmentos em que o cartão ainda é pouco usado e o dinheiro prevalece. A informação foi divulgada ontem pelo presidente da Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviços (Abecs), Félix Cardamone.

Segundo o executivo, um dos principais desafios da indústria de cartões hoje é penetrar nas periferias e nos pequenos comércios. Por isso, as credenciadoras Visa e Mastercard criaram um POS com menos funcionalidades, capaz de realizar apenas as operações de crédito e débito, por um custo menor. "O próximo passo é atingir outros nichos onde só se utiliza dinheiro, como táxis, delivery e feiras livres", afirma Cardamone. De acordo com ele, já existem 2 mil POS compartilhados em operação em São Paulo, sendo que no final de junho a previsão é atingir 7,8 mil.

Agora, a atuação da Abecs será atrair novas bandeiras para a iniciativa. "É inviável para um taxista, por exemplo, ter mais de um POS em operação", diz. "Depois de muitos testes, chegou-se agora a um padrão tecnológico que possibilitará crescimento mais acelerado desse projeto piloto", completou, durante o Ciab, congresso promovido pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) com o objetivo de discutir os investimentos em Tecnologia da Informação (TI).

Cardamone lembra que a intenção não é iniciar um processo de compartilhamento de POS em toda a indústria. "Porque hoje os POS têm muitas funcionalidades, e cada credenciadora investiu muito nessas diferenciações". Os últimos dados da Abecs são referentes ao mês de abril e mostram que, considerando as modalidades de crédito, débito, loja e redes, os gastos com cartões no mês somaram R$ 29,1 bilhões, crescimento de 24% em relação ao desempenho registrado no mesmo mês do ano passado. Em termos absolutos houve um acréscimo de R$ 5,7 bilhões sobre o montante acumulado em 2007. Para 2008, a expectativa da Abecs é de que o saldo de operações com cartões movimente R$ 375 bilhões, afirma Cardamone.

Pressão inflacionária

O presidente da Abecs afirmou que a indústria dos cartões ainda não foi afetada pelos recentes repiques inflacionários registrados nos últimos meses. "Não percebemos qualquer desaquecimento no volume transacionado, muito pelo contrário, o volume continua crescendo", diz. "Mas é claro que uma inflação que se estabilize num patamar mais alto gera perda no poder de compra do consumidor e conseqüentemente um menor volume é transacionado. Mas isso é um impacto geral na economia", completa. Segundo ele, as recentes pressões inflacionárias não promoverão uma revisão das estimativas de crescimento da indústria neste ano, que estão na ordem de 20%.

Autoregulação

Para o chefe do departamento de operações bancárias do Banco Central, José Antônio Marciano, o sistema de meios de pagamento brasileiro tem muito a evoluir, e os investimentos em tecnologia são importantes nesse processo, na medida em que permitem um aumento do volume de transações e dão mais segurança. "Toda a infra-estrutura do sistema de pagamento brasileiro precisa de ajustes, desde caixas eletrônicos até a indústria de cartões."

Para ele, o mobile banking (pagamento via celular) é uma das formas de intensificar o uso do plástico. "Os consumidores estão, cada vez mais, exigindo mais opções de produtos, mas por menores custos", completa. Outro desafio para a indústria, segundo ele, é a transparência. "Há informações de que os cartões passaram a liderar as reclamações dos consumidores, ultrapassando o setor de telefonia, que sempre tinha sido o mais demandado". Para tentar solucionar essa questão e melhorar a imagem da indústria perante clientes, a Abecs iniciou um projeto de auto-regulação do setor. Segundo Cardamone, o documento está sendo finalizado e "assegurará que os players ajam com mais transparência, evitando práticas abusivas".

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