jornal Brasil Econômico 14/09/2010 - Thais Folego
Mais conhecida pelos cartões de crédito — em que o conceito é compre agora e pague depois —, a bandeira mundial de cartões Visa aposta forte em um segmento considerado chave para o crescimento a longo prazo da companhia no mundo: a de cartões pré-pagos, em que a ideia é exatamente oposta à do cartão de crédito: paga-se antes e consome-se depois. "Existe um mercado potencial global de US$ 3 trilhões para os produtos pré-pagos", diz Brian Triplett, diretor-executivo mundial de Pré-Pagos da Visa Inc.
Com dez mil programas envolvendo produtos pré-pagos em 110 países ao redor do globo, a Visa estuda trazer novos produtos para o Brasil. Uma das frentes de trabalho é fazer parcerias com o governo local para distribuir subsídios à população por meio de cartões pré-pagos. Já há conversações avançadas com a Caixa Econômica Federal para converter alguns programas sociais para pré-pagos.
A ideia é começar por programas menores para depois chegar à base do Bolsa Família", conta Tiago Rossi Moherdaui, gerente de Produtos Pré-Pagos da Visa do Brasil. Segundo ele, a base do Bolsa Familia é muito grande — hoje são 12,7 milhões de benefícios concedidos em todo Brasil, em um total de R$ 1,2 bilhão distribuído por mês — para converter de uma só vez e, por isso, a previsão é começar por subsídios que atendem a um menor número de pessoas.
Atualmente, as famílias beneficiadas pelos programas sociais possuem um cartão para receber o benefício. Com ele, porém, só é possível sacar o dinheiro. Há a possibilidade, também, de se abrir uma conta corrente simplificada, na qual o benefício é debitado e pode ser gasto por meio de um cartão de débito. Essa opção, porém, ainda é pouco utilizada. O objetivo de um pré-pago é que todas essas transações que hoje são feitas com o dinheiro sacado migrem para o meio eletrônico.
Experiências e capacidade para tanto não faltam. Nos Estados Unidos, o maior mercado de pré-pagos do mundo, cartões da Visa distribuem cerca de 70 programas sociais do governo, que vão de auxílio desemprego a assistência à criança. Há experiências ainda na República Dominicana, Paquistão e Índia. "Com cartões pré-pagos, os governo buscam eficiência e segurança, garantindo que os recursos cheguem de forma rápida ao beneficiário", diz Triplett.
O principal objetivo de produtos pré-pagos é substituir o dinheiro em espécie. E aí se abre um mundo de possibilidades, que vão de benefícios corporativos a cartões de presente, passando por produtos de inclusão financeira.
Produtos
No Brasil, o produto pré-pago da Visa de maior sucesso é exatamente um benefício corporativo: o Visa Vale. Há também o Visa TravelMoney, cartões de incentivo e de presente. A companhia não abre números por produtos ou regiões, mas levantamento feito pela Boanerges & Cia Consultoria em Varejo Financeiro mostra que em 2009 o segmento de pré-pagos no Brasil movimentou R$ 77 bilhões, sendo R$ 32 bilhões só de telefonia. A projeção da consultoria é de que o segmento atinja faturamento de R$ 369 bilhões em 2020.
"O principal objetivo é trazer a conveniência, transparência e economia da plataforma de produtos que já temos e replicar aqui", resume Jose Coronel, diretor executivo de produtos Pré-Pagos da Visa na América Latina e Caribe.
Plástico pré-pago na área de saúde está sendo estudado no Brasil
Um produto pré-pago que logo deve entrar no portfólio da Visa no Brasil é o de saúde. A companhia tem diversos cartões e serviços para o segmento nos Estados Unidos. Em geral, os produtos funcionam da seguinte forma: o consumidor ou a empresa (em forma de benefício) deposita um valor no cartão pré-pago para ser usado com despesas de saúde, desde gastos com remédios até consultas médicas. Sete entre dez companhias de seguro saúde americanas distribuem cartões pré-pagos da Visa. "Temos produtos voltados para essa área e estamos trabalhando com o nosso time local, que identificou potencial para o produto aqui", conta Brian Triplett, diretor-executivo mundial de Pré-Pagos da Visa Inc.
"Estamos trabalhando nesse produto, pois há muitas diferenças entre o mercado brasileiro e americano, este último mais maduro", explica Jose Coronel, diretor-executivo de produtos Pré-Pagos da Visa na América Latina e Caribe. Segundo ele, nos EUA há legislação específica para esse tipo de produto. "Aqui os reguladores estão trabalhando nisso." No Brasil, a APPI, uma empresa local, tem uma pequena operação no nordeste do país com cartões pré-pagos, que podem ser usados para pagar consultas e exames médicos.
Ajuda humanitária chega por meio do plástico no Paquistão
O conflito armado liderado pelo Talibã no Pasquitão gerou uma multidão de refugiados no país. O governo do Paquistão criou diversos centros para dar assistência para essas pessoas, fornecendo alimento, abrigo e auxílio financeiro. O principal desafio, porém, era entregar de forma eficiente e rápida num ambiente caótico ajuda econômica para cerca de 1,5 milhão de refugiados.
Em parceria com um banco local, foi criado um cartão pré-pago no qual os recursos são depositados e chegam a qualquer lugar do país para os refugiados.
Assistência social do governo nos Estados Unidos
O mercado de pré-pago americano é o mais desenvolvido do mundo. Por lá, parceria entre instituições financeiras e o governo levam os recursos de programas sociais aos beneficiários por meio de um cartão. Só por meio de cartões Visa, são mais de 70 programas sociais, como auxílio desemprego. Nos EUA, também há diversas experiências de cartões pré-pagos corporativos, que dão benefícios aos funcionários de empresas. Há também produtos para segmentos específicos de negócios, como o cartão para gastos de saúde, incluindo despesas de consultas médicas.
Programas sociais na República Dominicana
Os Cartões de Solidariedade com a bandeira da Visa entregam 800 mil benefícios do governo à população na República Dominicana. O pagamento dos recursos por meio de cartão fomentou a aceitação de plásticos no país, já que o comércio teve que se adequar para receber meios eletrônicos de pagamento. O Cartão Solidariedade foi criado pelo governo local em 2003, depois que uma forte crise econômica levou ao empobrecimento diversas famílias locais. O fator segurança levou o governo a escolher o cartão, pois dessa forma consegue controlar o destino dos recursos.
Cartão inclui 58 milhões de indianos no sistema bancário
Na Índia, cerca de 90% dos USS 703 bilhões gastos anualmente pela população local é transacionado na forma de dinheiro, segundo estimativa da Visa. A companhia viu aí um grande mercado a ser explorado por meios eletrônicos de pagamento.
E, em 1999, lançou o seu primeiro produto, de débito, no país. De lá para cá, mais de 58 milhões de cartões de débito foram emitidos, sendo essa a primeira experiência com um produto bancário de muitos indianos. Produtos de crédito e pré-pago também foram lançados no país, onde cerca de 34 milhões de contas bancárias são abertas por ano.
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