jornal Valor Econômico 29/09/2010 - Adriana Cotias
Com apenas sete anos de atividades, a Companhia Brasileira de Soluções e Serviços (CBSS), mais conhecida como administradora dos cartões Visa Vale), se prepara para um novo salto no mercado de meios eletrônicos de pagamentos. Depois de ter instituído no Brasil os cartões-benefício, para pagamento de refeições e compra de alimentos, em substituição aos vouchers de papel que dominaram o segmento por três décadas, a empresa vai abraçar todo o projeto de cartões pré-pagos da bandeira elo. A elo é uma criação conjunta de Banco do Brasil e Bradesco e que ganhou adesão recente da Caixa Econômica Federal.
Com a missão de desenvolver uma linha de cartões para a nova classe média (com renda familiar entre R$ 800 e R$ 2 mil ao mês), capturando os 35 milhões de brasileiros que estão chegando ao mercado de consumo, a expectativa é de que o negócio Visa Vale, que este ano deve movimentar R$ 10 bilhões, triplique de tamanho até 2013, segundo o presidente da empresa, Newton Neiva. Até aqui, com o crescimento estreitamente ligado à formalização do trabalho, a CBSS construiu uma base de 70 mil empresas, com 6 milhões de cartões-benefício emitidos e 30 milhões de transações por mês. Da rede credenciada pela Cielo, com 1,6 milhão de estabelecimentos, 220 mil aceitam o Visa Vale.
"O elo é uma grande oportunidade, há uma grade de 20 a 30 cartões pré-pagos que podem ser desenvolvidos", diz Neiva, citando os segmentos de saúde e transporte coletivo como potenciais. Em São Paulo, a Visa Vale já faz a gestão do bilhete único, modelo replicável para outros municípios.
A CBSS tem o controle compartilhado por BB e Bradesco, que detêm, cada um, fatia de 45% do negócio - os outros 10% estão nas mãos da Visa International, que tem se desfeito de ativos desde a abertura do capital. O Santander Espanha, que tinha pouco mais de 15% da empresa, remanescentes da aquisição do ABN Amro Real, vendeu a participação em abril, na mesma transação em que transferiu para os outros dois bancos a parcela na Cielo.
Os primeiros cartões elo devem chegar ao mercado em novembro, oferecendo um embate direto às marcas de débito das bandeiras internacionais, Visa e MasterCard. A ideia é que esse seja o primeiro instrumento de inclusão financeira para o cliente não bancarizado, que antes tinha no varejo o seu primeiro relacionamento de crédito. Nessa base nova que será formada com a força de distribuição de BB, Bradesco e Caixa, os bancos deixam de pagar royalties às bandeiras estrangeiras para as transações locais.
No modelo de negócio anunciado, debaixo da holding formada pelas três instituições há um braço de negócios bancários, que cuida da bandeira elo e de alguns acordos de cartões "private label". Paralelamente, uma holding de administração de serviços abrange a CBSS, com as soluções em serviços pré-pagos, além da promotora de vendas do banco ibi, comprado pelo Bradesco. Uma terceira perna de participações foi constituída para incorporar, no futuro, a Cielo, com a sua rede de adquirência.
Além do mundo elo que se abre para a CBSS, o pujante crescimento do emprego formal no Brasil, com a inclusão de mais de 2,5 milhões de trabalhadores neste ano, traz um viés claramente expansionista para o negócio, diz Neiva. A baixa penetração dentro da base de BB e Bradesco, com 1 milhão de clientes pessoa jurídica, mostra um mercado ainda pouco explorado no segmento de pequenas e médias empresas, acrescenta.
A rede credenciada também pode crescer com o suporte da Cielo. Apesar de não haver mais contrato de exclusividade - da mesma forma que havia entre Visa e Cielo -, essa será a rede preferencial para os cartões Visa Vale, diz o executivo. "A empresa trabalha com escala; quando divido perco a eficiência, por isso optamos por uma única rede de captura." Para contornar a eventual preferência de estabelecimentos pela Redecard, ele diz que a Cielo coloca à disposição do lojista uma máquina exclusiva para aceitar o Visa Vale.
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