21 de out. de 2010

MODELO DE JURO LIMITA AVANÇO DE CARTÕES NO PAÍS

jornal Valor Econômico 21/10/2010 - Adriana Cotias

O modelo brasileiro de cartões de crédito, em que poucos consumidores que se financiam no rotativo pagam juros altíssimos e "subsidiam" a grande massa que não paga juro entre o ato da compra e o vencimento da fatura, precisa sofrer alterações se a indústria quiser capturar as classes emergentes, que começam a ser inseridas no sistema financeiro formal. Essa é a avaliação do diretor da Associação Brasileira das Empresas de Crédito e Serviços (Abecs) Ivo Vieitas. Para o executivo, da forma como o setor está estruturado hoje, a conta não fecha e o avanço dos bancos nos segmentos de renda menor pode ser limitado.

Conforme apresentou no 5º Congresso de Meios Eletrônicos de Pagamentos, evento conjunto da Abecs com a Febraban, só 25% dos brasileiros que têm um plástico na carteira se financiam no cartão, enquanto nos Estados Unidos essa parcela é de quase 80% e no Reino Unido, de 70%. Por aqui, quem paga só mínimo da fatura mensal arca com um custo médio de 10,1% ao mês, enquanto aqueles que atrasam o pagamento acabam sendo onerados em 13,1% pela adição dos encargos de mora e multa. No parcelado com juros, a taxa sai a 6,5%, mas como a grande maioria dos portadoras paga integralmente a fatura no vencimento, a taxa média de juros é de 3,6%.

"Para dar mais crédito à população é preciso ter equilíbrio econômico garantido e uma estrutura de preços mais sustentável", disse Vieitas, que também comanda, dentro do Itaú Unibanco, a operação do Hipercard, bandeira que tem a sua história de crescimento vinculada à baixa renda, com 14 milhões de plásticos emitidos no país.

Para o executivo, a solução dessa equação, em que mais clientes pagariam menos, é um desafio individual de cada empresa do setor, não cabendo a intervenção do regulador. "O setor hoje tem dificuldade de carregar o sinistro das carteiras de crédito de maior risco."

Outra ineficiência criada pelo próprio mercado, acrescentou, foi a venda parcelada sem juros, que passou a ser usada pelo varejo como vantagem competitiva, em substituição ao cheque pré-datado, e que acabou se tornando uma armadilha. Uma das alternativas seria que as credenciadoras cobrassem uma taxa de desconto mais alta dos estabelecimentos comerciais que vendem na modalidade, mas isso acabaria imputando custos aos próprios consumidores. Vieitas explicou que, embora o banco não faça o desembolso adiantado para os lojistas, na ponta de emissão, as instituições financeiras têm de provisionar o saldo todo do cliente quando há algum atraso na fatura. Mexer no prazo de pagamento aos lojistas, feito em 30 dias, não está, entretanto, no rol de discussões.

No Brasil, a taxa de juro anual do cartão oscila de 188% a 433%, em comparação a um intervalo de 6,8% a 31,5% no Reino Unido e de 8,99% a 28,7% nos EUA. Mas, segundo Vieitas, não é a inadimplência que explica números tão altos, já que as perdas aqui chegam a 8,6% da carteira, enquanto no Reino Unido e EUA as taxas são de 8,5% e 10,2%, respectivamente.

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