23 de mai. de 2008

ITAÚ CONTESTA VENDA DA NOSSA CAIXA PARA O BANCO DO BRASIL E PEDE LEILÃO

jornal O Estado de S. Paulo 23/05/2008 - Ricardo Grinbaum e Fernando Nakagawa

Um dia após ser anunciada, a negociação para a venda da Nossa Caixa para o Banco do Brasil (BB) foi contestada ontem pelo presidente do Banco Itaú, Roberto Setubal. Em declaração ao Estado, o presidente do segundo maior banco privado do País cobra maior transparência no negócio e defende a realização de um leilão, o que garantiria melhor preço pelo patrimônio do banco estadual paulista. Ele antecipou o interesse do Itaú na disputa.

"Se o governo do Estado de São Paulo pretende vender a Nossa Caixa, entendo que a melhor forma seria um leilão, pois estaria garantido, de forma transparente, o melhor preço para o Estado. O Itaú teria interesse em participar desse eventual leilão", declarou.

O presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo, José Carlos Vaz de Lima (PSDB), afirmou ontem ao Estado que a instituição tem condições de aprovar a incorporação da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil 60 dias após o envio de um projeto do governo paulista para a aprovação da alienação da sua participação no capital do banco estadual, que é de 71,25% - os 28,75% restantes estão em poder de acionistas minoritários.

"Meu sentimento é de que não haveria problemas para a aprovação, desde que obedeça às condições básicas de preço de mercado e garantia dos direitos dos trabalhadores e dos acionistas minoritários", frisou. Para ele, o preço mínimo deve ser perto de duas vezes o patrimônio da Nossa Caixa, de R$ 2,867 bilhões, pelo balanço de 31 de março. Assim, o preço deveria ficar ao redor de R$ 5,7 bilhões.

Na avaliação do deputado, há boas condições para a Assembléia Legislativa apoiar o negócio com o Banco do Brasil porque não será uma privatização, mas uma transação entre duas instituições públicas. Como o Banco do Brasil quer ampliar a atuação no Estado de São Paulo, a tendência é de requerer um número expressivo do corpo de empregados da Nossa Caixa.

Para ele, se essa negociação for feita com um banco privado, a aceitação na Assembléia Legislativa poderia ser mais difícil, pois haveria maiores preocupações com um eventual processo mais radical de enxugamento de despesas e demissões de funcionários. "O BB é uma instituição de 200 anos, que faz parte da história do Brasil e contribui há muito tempo com o desenvolvimento econômico e social do País. Não tenho dúvidas de que a incorporação da Nossa Caixa pelo BB deve ser positiva para São Paulo, para os funcionários e os acionistas minoritários", afirmou.

De acordo com Vaz de Lima, os entendimentos políticos entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador José Serra estão avançados e o Banco do Brasil e a Nossa Caixa devem apresentar em breve o preço que cada parte considera razoável. Ele ponderou que será necessária uma terceira avaliação independente, provavelmente de uma empresa de auditoria com experiência internacional, que será capaz de estimar um valor justo.

O deputado disse que, se os poderes executivos federal e estadual não contratarem a auditoria independente, a Assembléia tomará essa decisão. Para Vaz de Lima, o pagamento de um preço de mercado é essencial para que a operação seja aprovada.

"A Nossa Caixa é uma das maiores instituições financeiras do País e, naturalmente, também desperta interesse de bancos privados. Então, seu valor não pode ser aviltado. Além disso, ela atua no Estado cuja economia é a mais forte do Brasil. Desse modo, é coerente esperar o pagamento de um montante que levaria em consideração um prêmio sobre o preço mínimo em função desses fatores atrativos", comentou.

LANCES DO BB

O início das negociações para compra da Nossa Caixa é o lance mais ousado do Banco do Brasil no seu plano de manter a liderança no mercado. Essa reação iniciou-se em 2007 com o começo da incorporação do Banco do Estado de Santa Catarina (Besc), processo que deverá estar concluído até agosto, de acordo com informações do próprio banco. Paralelamente, o BB vai incorporar aos poucos as agências do Banco do Estado do Piauí, já federalizado.

O aproveitamento desses antigos bancos estaduais, no entanto, representa pouco diante da necessidade de crescimento num mercado que tende a ser cada vez mais concentrador. Com o anúncio feito na noite de quarta-feira, o BB acelera essa estratégia, de forma a responder aos concorrentes privados que adquiriram pelo menos 30 bancos nos últimos dez anos.

Desde o ano passado, os passos do BB para ganhar musculatura eram, proporcionalmente, discretos, se comparados à onda de fusões e aquisições que marcou o setor na última década. Por isso, em 2007 o maior banco brasileiro deu início às negociações com o governo do Distrito Federal para incorporar também o Banco de Brasília (BRB), que já foi forte na capital e em 2007 teve lucro de R$ 37 milhões.

Colaboraram Ricardo Leopoldo e João Domingos

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