4 de set. de 2011

PRÉ-PAGO PODE GIRAR MAIS DE R$ 18 BILHÕES EM SEIS ANOS

jornal DCI 01/09/2011 – Marcelle Gutierrez

No Brasil, o meio de pagamento eletrônico com crédito antecipado, o pré-pago, ainda não apresenta expansiva aceitação entre consumidores, comércio e emissores. Segundo especialistas presentes no Congresso de Cartões e Crédito ao Consumidor (C4), falta uma regulamentação específica para gerar credibilidade e confiança, já que o potencial de movimentação no mundo é de US$ 3 trilhões neste ano, aponta o gerente de produtos pré-pagos da Visa. Já o executivo da Mastercard acredita que somente o Brasil irá movimentar US$ 18 bilhões até 2017 em produtos da rede aberta, isto é, disponíveis para a utilização em diferentes estabelecimentos comerciais.

Em 2010, o setor movimentou R$ 89 bilhões, sendo que R$ 34 bilhões vieram dos produtos de telefonia móvel, de acordo com a consultoria de varejo financeiro Boanerges & Cia. Contudo, Neissan Monadjem, CEO da companhia E-Safe Transfer, acredita que há elementos positivos e funções ainda inexploradas, além das já conhecidas, como recarga de celular, tíquete refeição, vale transporte, entre outros. "Há um mercado gigantesco para expansão, com o crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] e diminuição do uso de cheque. Mas há novos mercados que podem ser explorados, o que deve impulsionar o crescimento, como vale-cultura, saúde, mesada, aposentadoria etc."

Segundo Monadjem, 4% do total de pagamentos realizados foram feitos com cartões pré-pagos em 2010. Mas a expectativa é de que até 2020, a participação atinja 10%

Luis Eduardo Ritzmann, superintendente de desenvolvimento de negócios do Grupo VR, confirma a projeção em cinco ou 10 anos e exemplifica com Estados Unidos e Europa, onde 10% do faturamento de shopping centers provêm de pré-pagos. De acordo com Ritzmann, a regulamentação pode colaborar com o mercado e em confiança por parte de consumidores e estabelecimentos comerciais.

Para realizar a autorregulação, foi criado há um mês o Grupo Setorial de Pré-Pagos no Brasil (GSPP), do qual a VR desenvolvimento faz parte, junto com mais 18 companhias. "Buscamos como exemplo o modelo da indústria de anunciantes, que tem sucesso com o Conar [Conselho Nacional de Autorregulação Publicitária], porque os anunciantes e veículos respeitam um código de ética. A gente tem essa visão para as empresas se organizarem. Como não estamos no sistema financeiro, temos de garantir que o dinheiro colocado no cartão está seguro e poderá ser utilizado. Esse conceito tem que permanecer, pois cria confiança e ajuda a mudar a cultura".

O Grupo VR possui estratégias diferenciadas no mercado há três anos, desde quando vendeu os produtos de benefícios ao trabalhador para a Sodexo. "Há um ano, percebemos que poderíamos desenvolver outros produtos em um mercado que realiza 700 milhões de transações por ano. Com isso, a VR Desenvolvimento e VR Benefícios geram produtos com valor agregado e relevância ao consumidor".

Gerar valor ao usuário também faz parte da estratégia da Visa no Brasil. Segundo o gerente de produtos pré-pagos na Visa, Tiago Moherdaui, há a necessidade de trazer vantagens para incentivar o uso. "O pré-pago tem uma atratividade mais restrita. Se agregar valor traz muitos benefícios para todos os participantes".

Outra vantagem e possibilidade de atuação está na classe que ainda não participa do sistema bancário, cerca de 40% da população brasileira, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV). De acordo com Moherdaui, o cartão funciona como um produto complementar para o bancarizado, mas um instrumento de compra com segurança e controle para o não-bancarizado. "Funciona ainda como ferramenta de educação financeira para a pessoa que não tem o costume de utilizar um meio eletrônico de pagamento." No Brasil, a Visa lançou o primeiro produto em 1996 e agora possui sete linhas ativas, mais de 80 programas implantados e 10 bancos emissores. No mundo, há 11 mil programas, distribuídos em 110 países.

A MasterCard concorda que o plástico funciona como entrada para a bancarização e cita como exemplo o cartão pré-pago em parceria com o banco PanAmericano, que tem multifunções, aponta Carlos Ogata, vice-presidente de desenvolvimentos de produtos da MasterCard. No entanto, o atual foco de atuação está no desenvolvimento de ferramentas para companhias fora dos bancos. "Para o pré-pago é necessária uma marca de aceitação, infraestrutura de operação e processamento, e gestão de programas direcionados".

Como possível mercado de maior expansão, Ogata cita o open loop, que consiste em plásticos aceitos em diversos estabelecimentos comerciais. O executivo cita que até 2017 US$ 18 bilhões será movimentado neste segmento somente no Brasil, sendo US$ 10 bilhões em cartões corporativos e US$ 8 bilhões para consumidores. O outro modelo do pré-pago é o recarregado e utilizado somente em uma rede de compras, como os cartões de fidelização.

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